Cruzo os portões com o pé direito e a recepção parece pipocar de pessoas curiosas. Entrar no saguão da N*****x com a minha credencial é impactante para mim, e mal consigo conter a minha euforia. Essa é mesmo a realização de um sonho, um sonho que eu aguardei por muito tempo e que vou realizar para honrar o meu pai.
Minha confusão de cores se mistura muito bem com o local descolado e, mesmo parecendo confiante por fora, sei que por dentro estou muito diferente disso. Saia mídi de oncinha, blusa fúcsia, sandália dourada da Gucci e bolsa pink da D&G. Poderia ser uma confusão horrível, mas, no fim, faço tudo combinar e ainda tenho uma postura blasé, como se o mundo fosse meu e eu pudesse esmagá-lo de salto alto. Ainda bem que treinei muito o meu andar fatal, assim, ninguém acredita nas minhas inseguranças e ainda recebo olhares de admiração.
Por falar em inseguranças, elas não param de aparecer quando noto os tributos e homenagens às principais produções independentes da empresa. Isso me faz questionar se sou tão boa assim. Como pensar em competir com um funko gigante da Eleven? Aquela garota já fez muito mais do que eu com praticamente metade da minha idade.
Mas, como já estou aqui, e com contratos assinados, não posso fraquejar.
Subo para o andar onde a equipe está reunida, com alguns minutos de atraso. Entro em uma primeira reunião com os meus principais colegas de elenco, para nos conhecermos. Graças à santa Angelina Jolie, ainda não começamos efetivamente a reunião e todos ainda estão ocupados com o elegantérrimo Coffee Break.
Camila, minha assessora de RP, quase pariu um filho quando soube que viria para cá sozinha. “Você não pode aparecer sozinha, sem uma pessoa para cuidar de você! É como se fosse órfã, amadora. Preciso estar lá.” Palavras dela, não minhas. Mesmo sabendo que é uma mera desculpa para estar em contato com os principais RP’s do mundo artístico de Hollywood, sei que é loucura estar fazendo isso por conta própria. Mas, pela primeira vez, eu consegui me ver livre de câmeras o tempo inteiro, de pessoas me controlando, de seguranças me seguindo. O peso dessa decisão é ainda maior, não posso falhar de jeito nenhum.
Estar em Los Angeles, iniciando essa carreira sozinha, é o meu maior passo para a independência. Principalmente, para provar que eu sou boa no que faço e consigo crescer sozinha.
Hoje é também a primeira vez que eu fico cara a cara com Logan Foster, meu par romântico no filme e parceiro de cenas. Ele é simplesmente o terceiro homem mais desejado do mundo, segundo a Vanity Fair. O namoradinho americano de toda adolescente que se preze, e acho que estou prestes a vomitar, de tão nervosa. Espero que ele seja ótimo e ajude a me acostumar com o ritmo intenso de filmagens e, principalmente, que goste de mim e que possamos ser amigos. Não consigo nem pensar em todo o drama de um filme com os bastidores em pé de guerra. Terrível.
Pego uma taça de champanhe e começo a circular entre as pessoas, procurando por Logan. Fico embasbacada por alguns segundos, absorvendo sua beleza impressionante, assim que coloco os olhos nele. De longe, consigo observá-lo sem parecer indelicada ao encará-lo. Preciso apenas checar todo o seu contexto, antes de chegar perto dele e acabar me enrolando. Se ele estará no filme, não tem como dar errado. Concluo nos dois primeiros segundos.
Logan é apenas o mais popular de todos no meio do Streaming e eu consigo entender o porquê ao bater o olho e constatar a sua aparência de bad boy. Isso é ótimo, porque teremos muita publicidade, e péssimo, se eu falhar. Muito mais gente vai ver e me ridicularizar se algo der errado. Começo a suar frio e, provavelmente, minha máscara escorrega, eu não consigo disfarçar o nervosismo e, justo nessa hora, ele me nota.
O ator tem o andar fatal e ao cravar os olhos em mim, abre um sorriso pra lá de cafajeste e vem em minha direção. De calça preta, blusa branca e jaqueta jeans, o safado sabe ser estiloso, e eu até sinto calor quando ele chega, embriagando-me com seu perfume.
— Olá, docinho. Se quiser treinar a nossa química fora das câmeras, eu tô dentro. — ele fala ao se aproximar, segurando a minha mão por um tempo muito maior do que o aceitável.
A Lia que disse que não iria se apaixonar e que o próximo homem com quem se envolvesse seria o seu futuro marido, quase ri na cara do babacão que se acha irresistível.
Balde de água fria com cubos de gelo.
Péssimo jeito de se apresentar, amigão, péssimo jeito.
— Bom dia, Logan, é um prazer te conhecer, mas acho melhor não misturarmos as coisas e viver esse drama, não é? — digo, piscando pra ele, sentindo meu estômago revirar.
Carinha mal-educado e arrogante. Eca. Odiei.
— Você tem razão, Lia, você não conseguiria viver com a mídia no seu pé, se anunciássemos um envolvimento por trás das câmeras. Pobrezinha, eu te entendo, não é pra todo mundo mesmo! — ele responde com um tom de voz de pena, indo em direção à cadeira central na mesa branca e enorme que nos aguarda.
Graças aos céus, Logan me parece bem forte e consegue carregar toda a sua arrogância nas costas. Porque educação, pelo visto, não é o seu forte. Babaca.
Me sento ao seu lado, engolindo seco e começamos o interminável dia de apresentações. Lemos todo o roteiro, com apresentações dos personagens e cenas. Conhecemos todos os figurinistas, figurantes, diretores, câmeras, equipe de apoio e do camarim.
Descubro também que contracenaremos com Layla Miller e fico admirada ao notar a sua postura implacável ao meu lado. A mulher é um espetáculo. Apesar de parecer bastante fechada, suas respostas foram certeiras e os comentários sarcásticos me ganharam por completo.
Passamos vagarosamente por todos os cenários em nossos carrinhos de golfe e, quando finalmente nos damos por satisfeitos, o diretor abre espaço para algumas perguntas da imprensa.
— Lia, é verdade que você veio para retomar a carreira do seu falecido pai? — um abutre pergunta.
— Lia, você tem talento mesmo, ou conseguiu esse papel por ser filha do grande Antony Reed? — outra pergunta.
— Lia, Lia! Você tentará tomar a fortuna, a qual tem direito, da sua tia?
— Lia, para quando será o casamento? — uma mulher desesperada pergunta, apontando para Logan.
Faço a minha melhor poker face e finjo que não escutei nenhum dos absurdos.
— Logan. — opa, finalmente uma para o galã que está ao meu lado, sorrindo como um idiota — Você será o décimo namorado de Lia Reed? Já podemos começar a te chamar assim? Lia Reed's boyfriend?
— Quê? — pergunto chocada. Como diabos a imprensa americana sabe dos meus nove ex-namorados e o apelido que todos ganharam, assim que assumimos alguma coisa e terminamos em seguida? Me recupero rapidamente e digo com um ar blasé — Alguma pergunta relacionada ao filme? Se sim, ótimo, se não, sem comentários sobre a minha vida pessoal. Estamos aqui para falar do filme, não é?
Falo dura e todos mudam um pouquinho de postura. Acharam que eu iria cair nessa teia e sair correndo igual a um coelhinho assustado, dando munição para atirarem em mim depois? Acharam errado, queridinhos.
Logan j**a charme e responde a maioria das perguntas que temos sobre o filme, e quando finalmente a entrevista é dada por encerrada, solto um grande suspiro. Puxa, que dia!
Nosso diretor nos libera e eu, mais do que depressa, pego as minhas coisas e vou embora, rumo à Hollywood Boulevard, conhecida também como calçada da fama. Preciso tentar fazer todos os passeios mais públicos, antes que alguém realmente comece a me perseguir. Sejam fãs ou paparazzis. Sei que a vida não vai ser tão simples por aqui e, se tem algo que papai me ensinou, foi isso.
A fama cobra o seu preço.