— Nosso bambino não nos ama mais, amore. — dona Elena reclama para meu pai, que acabou de tirar a mesa depois de um almoço longo e cheio de fofocas familiares.
Domingo é sempre uma luta e, dessa vez, passar um tempo com eles foi bom. Não há do que reclamar. Quando estamos apenas nós três, as coisas são muito melhores do que quando envolvem todos os tios, primos, papagaios e periquitos.
— Não seja tão dramática, mamma, passamos o dia inteiro juntos, abri mão de algo importante para isso e, logo, vocês precisam abrir o restaurante. Além do mais, começo realmente amanhã.
Vejo os seus olhos brilharem de orgulho e empolgação. Provavelmente, ela não imaginou que eu chegaria tão longe, depois de ter aprontado tanto quando era mais novo. Estar aqui, de fato não era a minha primeira opção, mas não contei isso para eles, obviamente.
— Meu orgulhinho! — ela vem em minha direção e me abraça forte. Retribuo o carinho, ansioso para ir embora e não ser mais o centro das atenções. Quando estávamos falando das sem vergonhices da prima Antonella, as coisas estavam mais fáceis, pelo menos, mais fáceis para mim — Conte tudo pra gente, estamos tão empolgados.
— Não há muito o que falar, mamma. — falo reticente, mas observo que até pappa parou de mexer com as coisas para prestar atenção ao que estou falando. Geralmente, isso não acontece, e o sentimento de culpa por não estar entregando nada muito substancial me assola.
— Claro que tem, Ian! Como chama o filme? Quem vai estrelar? Como é a história?
— Bom, não posso dar muitas informações, porque assinei um contrato de confidencialidade. — corto logo no começo, para que eles não fiquem me perguntando mais do que o necessário.
— Mas alguma coisa você pode dizer, certamente. — pappa é quem pressiona, e eu não tenho como fugir.
— Soube que Logan Foster irá ser o ator principal. — observo dona Elena soltar um suspiro sonhador e meu pai dá uma cotovelada fraca e discreta nela, chamando a sua atenção — Layla Miller, a modelo famosa também está escalada e uma outra nova, que eu nunca ouvi falar, Lia Reed.
A expressão dos dois é impagável.
— LIA REED? Filha do famoso astro, galã, perfeito, Anthony Reed? — o grito de mamma é tão alto, que quase fico sem tímpanos.
— Acredito que sim. — respondo, dando de ombros.
Qual é a dessa garota para fazer com que eles ajam dessa forma? Pela idade, achei que eles nunca a conheceriam.
— Pobrezinha… perder o pai e toda a sua fortuna de uma vez só. Um completo absurdo! Agora, está dando a volta por cima e recuperando o seu lugar. Muito bem! — ela fala toda orgulhosa, como se a atriz fosse filha dela e eu reviro os olhos.
— Bom, deve ser apenas mais uma estrelinha qualquer… o que importa mesmo é que eu sou o câmera principal e as coisas estão começando a dar certo para mim na indústria. — digo, voltando ao foco principal, antes que mamma comece a enumerar cada um dos filmes de sucesso do tal Reed que morreu de forma trágica — Se tudo der certo, agora eu vou conseguir estar em contato com pessoas importantes que vão dar o pontapé que eu preciso para começar a minha carreira.
Levanto-me da mesa, antes que os dois comecem mais uma sessão incansável de perguntas.
— Obrigado pelo almoço mamma. — beijo o topo da cabeça dela e vou até meu pai, oferecendo um aperto de mão que logo se transforma em um abraço — Pappa. Preciso mesmo ir.
— Sempre indo, esse menino é muito ingrato… — antes de continuar a ouvir a ladainha de dona Elena, saio porta a fora, indo em direção ao meu carro.
Não menti quando disse que realmente precisava ir embora. Se continuássemos a conversar, só sairia dali amanhã e, como conheço-os bem, Paola logo chegaria e as coisas ficaram ainda mais desconfortáveis.
Quando chego em casa, depois de um banho, pego uma cerveja, ligo a televisão e passeio pelos canais, procurando parte da coletiva de imprensa do filme.
Mamma conhecia a tal loira espalhafatosa, que parece maquiada e colorida demais para a televisão e isso, por acaso, chama a minha atenção. A imprensa pergunta sobre um possível relacionamento entre os protagonistas e ela dá uma resposta malcriada que me deixa com vontade de rir. Pelo menos, não parece ser mais uma afetada que fica se jogando em cima daquele idiota.
Sei que deveria ter comparecido ao evento, inclusive, estava ansioso para isso. Mas de última hora a empresa me ligou, dizendo que havia um problema com os convites, e talvez, por eu ser o novato, ou o único que ainda não tinha chegado, fiquei de fora. Talvez eu devesse me sentir excluído ou incomodado com a situação, mas ainda preciso conquistar meu lugar, e principalmente, respeito das outras pessoas.
Agora, observando pela televisão as perguntas, até me sinto melhor, sei que não perdi nada.
Meu objetivo é simples, me aproximar das pessoas certas. Ser o mais profissional possível e fazer o meu trabalho bem-feito. Tudo o que foge disso, eu dispenso.