CAPÍTULO 3 - LIA REED

— Sim, mamãe, está tudo bem por aqui, a senhora pode ficar tranquila.

— Eu sei, filha, mas você não deveria ter ido sozinha. Estou mortificada por você ter dispensado Raul. Ele é o melhor de todos. Como você vai ficar segura aí, hein? É a estreia da minha bonequinha na televisão americana. — ela reclama do outro lado da linha e eu abro um grande sorriso.

— Mãe, você sabe que eu não sou a sua bonequinha, além do mais, seja um pouquinho mais a minha mãe e menos a minha empresária. Você sabe que não é, teoricamente, a minha estreia na televisão americana. — digo, com paciência — Além disso, nós combinamos, você já me acompanhou por toda a vida nas novelas, séries, filmes e todos aqueles comerciais aí no Brasil. Você viveu por mim durante todos esses anos, nada mais justo do que me deixar cuidar de tudo agora. Está na hora de focar em você e se concentrar em ser a dona do salão de beleza mais incrível de São Paulo. Faça valer o meu investimento, dona Cristina. — brinco em um tom sério e ela ri do outro lado da linha — E quando a Camila chegar, ela vai conseguir um ótimo segurança para mim sem eu ter que arruinar a família do Raul.

— Eu sei, você tem razão. Mas é tão difícil saber que você está sozinha pela primeira vez na vida, filha. Confesso que estou com medo e te acho muito mais corajosa do que eu. Já estou com saudade. — ela diz, e eu me encolho na cama, sentindo saudade também.

— Eu sei, mãe. Sempre fomos companheiras e agora, eu estou tentando encontrar o meu lugar no mundo, longe de você. Mas, quando quiser, pode vir me visitar. Minha nova casa sempre estará aberta para a senhora.

— Seu pai estaria muito orgulhoso da mulher que você está se tornando, Lia. — ela diz, fungando do outro lado da linha.

Mães podem ser muito sentimentais.

— Ixi, pode parar de chorar aí, se não, vou chorar aqui e chegar toda inchada no meu primeiro dia de trabalho. — respondo, contendo uma lágrima chata que insiste em cair, mesmo com toda a força de vontade em me manter durona — Obrigada! Sabe que significa muito pra mim ouvir você dizer isso. Eu quero muito que papai seja honrado e que, de alguma forma, eu esteja retomando com o seu legado.

— Você é o nosso orgulho, Lia. Ele também está torcendo por você, de onde quer que ele esteja.

— Eu sei, mamãe. — digo baixinho, sentindo aquela dor chata da saudade e da perda apertarem o meu coração — Mas estou chegando, então, deixe os assuntos tristes pra lá.

— Sim, com certeza. Assuntos tristes não têm espaço em nossa conversa hoje. — ela diz, tentando se recuperar — Não tenha medo de ser quem você é, Lia. Hollywood pode querer mexer com a sua cabeça, mas eu sei que você tem o melhor coração do mundo e que não vai se deixar abalar pelo que possa vir. Eu te amo e acredito em você! Tudo vai dar certo, você vai ser perfeita. E eu não digo isso como a mãe coruja que sou, e sim, porque eu conheço e acredito em você.

Abro um sorriso grande ao ouvir o incentivo materno, absorvendo cada palavra linda, que só as mães conseguem dizer para as filhas. Ela sempre foi e sempre será minha maior incentivadora. Dona Cristina é o meu tudo.

— Obrigada. Depois conversamos, porque já estou chegando ao set. — digo desligando, sem dar espaço para que ela se despeça.

Por que as despedidas são tão ruins? Mesmo por telefone, é horrível dizer adeus.

Desço do Uber e um filme passa em minha cabeça. Tudo o que vivi até hoje me trouxe até aqui. É tão louco pensar que já passei por sets hollywoodianos quando era tão pequena, no colo do ilustre e incrível Anthony Reed. Foi nesta cidade que meus pais encontraram o amor e também, que a nossa família conheceu a maior dor existente, quando meu pai se foi. Eu era tão pequena que mal me lembro de como meu pai era, seu abraço e o calor do seu corpo. Mas, se eu quiser relembrar sua voz, é só colocar um de seus vários filmes de sucesso. Foi assim que, desde criança, aprendi como é a efemeridade da vida e como precisamos aproveitar cada pequeno segundo ao lado de quem amamos de verdade.

Lembro-me da pequena Lia em seu aniversário de quatro anos e abro um pequeno sorriso. Eu e mamãe tínhamos acabado de voltar para o Brasil, tentando superar o luto e reconstruir a nossa família. Escutei atrás da porta, por dias, minha mãe recusar com veemência os convites para que eu fizesse a nova novela infantil da maior emissora do país. “Eu não quero que ela entre nesse meio e seja corrompida também. Minha bebê não vai filmar novela nenhuma.” Pedi tanto, mas tanto, que ela me deixou fazer o teste, com a certeza de que eu não passaria. Só tinha feito alguns comerciais quando bebê, mas nada substancial, como papel principal em uma novela ou filme. Entretanto, eu passei e fui ganhando, de papel em papel, experiência e credibilidade. Mesmo tão pequena, já sabia que queria seguir os passos do meu pai. Sempre foi tudo por ele, para me tornar mais próxima, para que ele sempre fizesse parte de mim.

— Papai, hoje vou começar a honrar o seu nome em nossa terra natal. Os Reed estão de volta. — digo baixinho, olhando para o prédio impressionante, alto e espelhado.

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