A cidade acordou sob um calor sufocante. Clara, ainda em repouso, observava pela janela o movimento na rua estreita em frente à Casa Raízes. O coração lhe dizia que aquele seria um dia difícil. A fragilidade do corpo a impedia de assumir a linha de frente, mas os olhos atentos seguiam cada detalhe: Júlia no portão, organizando a entrada das voluntárias; Luana conduzindo as adolescentes para a sala de atividades; Miguel carregando caixas com mantimentos. Tudo parecia em ordem — até que os primeiros rumores chegaram.
Na esquina, um grupo de moradores se reunia em protesto. Cartazes improvisados nas mãos, vozes exaltadas, acusações que ecoavam como pedras arremessadas. “Essa casa traz problemas!”, “Estão ensinando rebeldia às meninas!”, “Aqui só tem desordem!”. Clara fechou os olhos por um instante. Era como se o passado insistisse em assombrar cada conquista.
Dessa vez, porém, ela não poderia correr até o portão e erguer a voz como antes. O corpo não permitiria. Precisava confiar que Jú