A lua estava alta quando Clara deixou a nova Casa Raízes naquela noite. As paredes recém-pintadas ainda cheiravam a tinta, e o jardim improvisado mal começava a criar raízes. Tudo parecia novo, promissor, mas o coração dela já pressentia as primeiras fissuras. Nenhum recomeço floresce sem dores, e ela sabia que, depois da euforia da inauguração, viriam as provas que testariam a força do projeto.
Os dias seguintes foram de movimento intenso. Mulheres chegavam de diferentes bairros, algumas guiadas pela notícia no jornal, outras trazidas por vizinhas. As adolescentes olhavam curiosas para os murais coloridos, mas a desconfiança ainda era maior que a esperança. As voluntárias, embora cheias de boa vontade, não tinham experiência suficiente para lidar com a enxurrada de demandas que surgia: pedidos de acolhimento, brigas entre mães e filhas, crises de pânico no meio da noite. Júlia, incansável, corria de um lado para o outro, mas Clara percebia no olhar da jovem a exaustão que ela tentava