O céu amanheceu pesado, nuvens densas encobriam o sol como se prenunciassem o que estava por vir. Clara sentiu o presságio antes mesmo de sair da cama: havia algo diferente no ar, um silêncio estranho percorria os corredores da nova Casa Raízes. Quando desceu para o refeitório, encontrou Júlia aflita, com os olhos marejados.

— A denúncia chegou — disse, com a voz embargada. — Alguém registrou que estamos “abrigando menores em situação irregular” e “colocando em risco a ordem da comunidade”.

Clara fechou os olhos por um instante, respirando fundo. Não era surpresa. Desde a inauguração, pressentia que a resistência da vizinhança cedo ou tarde se transformaria em ataque formal. Mas ouvir aquilo em voz alta ainda doía, como uma ferida aberta.

No mesmo dia, duas assistentes do conselho tutelar apareceram na Casa, portando pranchetas e olhares inquisidores. Percorreram os quartos, observaram os murais pintados pelas meninas, fizeram perguntas frias às voluntárias. As adolescentes se encolhi