Adriano Monteiro já não dormia. As madrugadas tornaram-se longas demais, preenchidas por copos de uísque e pensamentos que não o deixavam respirar. O espelho do escritório mostrava um homem envelhecido em questão de semanas: olheiras profundas, a barba mal-feita, os olhos vermelhos de insônia. Ele, que sempre controlara a narrativa da própria vida, agora não passava de um ator acuado em um palco iluminado demais.
Naquela manhã, um telefonema de um contato no banco confirmou seus piores temores: alguém havia mexido em suas contas secretas. Ele não precisou de explicações. Só uma pessoa tinha inteligência e coragem suficientes para chegar até ali. Clara.
A raiva e o pânico misturaram-se como veneno nas veias. Pegou o carro e dirigiu sem destino, até parar diante do prédio modesto onde sabia que ela estava vivendo. O porteiro tentou barrá-lo, mas a fúria em seus olhos o fez recuar. Subiu as escadas como um animal encurralado, cada degrau ecoando sua pressa.
Bateu na porta. Clara abriu se