Felipe Diniz
Meses depois, quando o mundo já parecia ter aprendido a seguir sem ela, Helena surge na minha porta.
Não há aviso. Não há mensagem. Só ela — e o vestido branco. O mesmo da primeira vez em que a vi. Simples. Leve. Cruelmente linda. Tão fora de lugar no caos em que me tornei, que por um instante esqueço de respirar.
— Posso entrar? — ela pergunta, com a voz que ainda ecoa em cada parte de mim.
Abro espaço, e o coração, mesmo sem querer, faz o mesmo.
Ela dá alguns passos, observa o pequeno apartamento — o sofá gasto, as cortinas tortas, a mesa com papéis espalhados. Tudo o que resta de um homem que antes acreditava controlar o mundo.
— Você vive aqui? — questiona, tocando o encosto do sofá com delicadeza.
— Vivo. Ou tento — respondo, e percebo o quanto essa resposta carrega o peso do que fui e o vazio do que sobrou.
Helena se aproxima com uma lentidão quase sagrada. Cada passo dela é um mergulho no passado — e cada segundo que passa, o ar parece se tornar mais espesso, como