Helena
O silêncio me prende como algema. É castigo e escudo ao mesmo tempo. Sempre pensei que guardar tudo dentro de mim pouparia os outros — e talvez a mim também. Agora sei que o que eu não digo vira lâmina afiada. Essas lâminas cortam o Felipe, me dilaceram e rasgam o que me resta de proteção. Sei que não tenho para onde fugir, por mais que resista e tente manter o meu passado enterrado, uma hora toda a verdade virá a tona. E o meu maior medo é a reação de Felipe quando descobrir o que tenho escondido durante todos esses anos.
Abro os olhos na cobertura e o coração bate como se fosse explodir. A pele ainda arde com as marcas da noite: o gosto bruto dos beijos, a pressa das mãos que não perguntaram, o peso dele sobre mim como se puxasse de dentro algo que eu escondo há anos. Não foram carícias. Foram investidas — íntimas, urgentes, como se ele quisesse arrancar a verdade do meu corpo.
Ele não faz amor. Ele me consome. E eu, contra toda razão, deixo. Deixo porque há uma parte minha q