(Narrado por Hellen Bennet)
Cinco anos depois… Estava voltando do restaurante do hospital com meu espresso na mão, olhando no celular e me divertindo com as mensagens daquela minha amiga maluca. Ela me mandava fotos… pouco santas para aquele horário da manhã. Li com as bochechas pegando fogo: “Amiga, olha só as massagens que nós precisamos fazer depois do plantão”. Depois anexou: uma foto exagerada de um spa de luxo e aqueles homens seminus fazendo massagem nas mulheres. “Meu Deus, a Anya é demais”. pensei corando instantaneamente, enquanto ria. Meus dedos voaram sobre a tela, digitando uma resposta com falso escândalo. “Garota, você é uma sem-vergonha, sabia? Nem parece ser uma oncologista tão respeitada!” Coloquei a carinha de "indignada" na mensagem, enquanto ria com a mão na boca, tentando me conter. A resposta dela veio instantânea. “Sou, sim, respeitada! Mas não sou de ferro! Um corpo desses precisa de manutenção, querida!” Ainda rindo, respondi: “Quer saber? Anya acho que você é que tá com tempo de sobra! Quanto a mim, tá me faltando. Vou trabalhar, que meu plantão está pra começar.” “Tá bom, tá bom! Vai lá, salva vidas! Um cheiro! Te conto tudo depois!” Desliguei o celular, ainda com um sorriso teimoso nos lábios, e enfiei-o no bolso do jaleco. O aroma do café misturava-se ao cheio antisséptico do corredor. Pelo menos por enquanto, as lembranças ruins estavam quietas, guardadas a sete chaves no fundo do meu coração. Estava me aproximando da minha sala no Hospital Memorial Parkland, observando o movimento. O lugar estava cheio, e o choro de crianças doentes sempre me partia o coração. Queria poder curar a todos, mas infelizmente, não tinha tal poder. Mas um choro em particular, que ecoava no corredor, chamou mais a minha atenção. Quando me virei, vi que era um bebê que eu já conhecia, pois já havia atendido em outras ocasiões para exames de rotina. O pequeno Liam e sua mãe, Mary Walker, desesperada, correram em minha direção com o olhar aflito. Eu estava parada, ainda segurando a maçaneta da porta. Mas o que mais me impressionou foi o homem que estava com ela. Era alto, forte, bonito, com olhos azuis intensos como o mar. No entanto, foi sua presença que realmente chamou a atenção - estava vestido de forma impecável, de terno e gravata que lhe davam um ar de sofisticação, mas também uma certa arrogância que era perceptível pela forma como observava todos ao redor com um olhar superior. Devia ter uns quarenta e poucos anos e havia algo em sua postura que transmitia confiança, mas também uma ponta de altivez. Ele segurava o bebê no colo com uma naturalidade que contrastava com o nervosismo de Mary, como se fosse ele quem estivesse mais à vontade na situação. O homem que estava com ela nada falou, mas quando levantou o olhar para mim, foi como se o mundo ao redor tivesse parado por um segundo. Não sei o que aconteceu naquele momento, mas meu coração disparou. Fiquei estática. Foi Mary quem me tirou daquele transe. — Doutora Bennett, por Deus, ajude meu bebê! Ele está chorando desde cedo, e eu estou desesperada! Já não sei o que fazer. Está com febre alta, eu… — Calma, calma, Mary. Vamos entrar na sala com seu bebê e com… — Olhei para o homem, indecisa, enquanto abria a porta. Ambos entraram, e o homem passou o bebê para o colo de sua mãe. Foi então que ela, percebendo a falta de apresentação, disse: — Ah, me desculpe, Doutora! Devido ao nervosismo, esqueci de lhe apresentar. Este é o meu padrinho. O homem, me encarando, estendeu a mão, dizendo com uma voz grave e firme: — Muito prazer, Doutora. Sergio Vance. Ao tocar sua mão, senti uma eletricidade inexplicável percorrer meu corpo enquanto ele mantinha o olhar assustadoramente hipnótico sobre mim. Porém, o choro de Liam aumentou e quebrou aquela conexão estranha. Vendo o desespero de Mary, pedi que ela deitasse o bebê na maca. Sentando-me próximo, comecei a fazer os exames com as mãos calmas e voz suave, acalmando-o pouco a pouco. E, enquanto fazia meu trabalho, senti o olhar intenso de Sergio Vance me observando, parado, como se estivesse cativado por aquela cena. Ao terminar os exames, percebi que o bebê estava com uma virose comum para a idade. Então, expliquei com calma para Mary, para que ela não continuasse assustada. — Calma, mãezinha. Nosso pequeno príncipe está apenas com uma virose. Nariz entupido, febre e dor não deixam nem um adulto dormir ou se alimentar direito, imagine um bebê? Mary pôs as mãos juntas em forma de alívio. Depois porém, mordeu os lábios ainda um pouco nervosa e pensativa e me perguntou: — E agora doutra o que eu faço pra ele melhorar? — Você não nós, e vamos começar por um medicamento aqui mesmo no hospital é só uma picadinha, mas é pra melhorar e aliviar a dor, além disso vou passar uns remédios pra você dar nos horários determinados bem como algumas vitaminas para que isso jamais volte acontecer com esse príncipe novamente ok? Mary balançou a cabeça, aliviada e agradecida, enquanto embalava o bebê em seu colo, que inquieto choramingava. Passei a escrever as medicações, sentindo o peso do olhar dele sobre mim como um toque físico. “Droga. Mesmo sem dizer uma palavra, esse homem me deixa tão nervosa que mal consigo me concentrar. E o pior é como se soubesse exatamente o que me faz.” Eu pensei quando elevando o olhar percebi como sorria de forma sexy pra mim, por sorte a sua afilhado não percebia. Escrevendo a receita o mais rápido possível, entreguei-a a Mary e indiquei a sala para a qual precisavam levar o bebê para administrar a medicação. Ao sair, ela me agradeceu profusamente. Foi então que, sem que ela percebesse, ele me lançou um olhar intenso e demorado que dizia muito mais do que qualquer palavra. — Obrigado, Doutora Bennett — disse ele, sua voz um baixo profundo que pareceu vibrar dentro de mim. — Por ter acalmado a minha afilhada e por ter atendido tão bem o seu filho. — Que isso, senhor Vance. Só estou fazendo o meu trabalho — respondi, esperando que minha voz soasse mais firme do que me sentia. — Sim. E faz com excelência — ele insistiu, seu dedos tocando levemente o meu pulso ao pegar a receita, um contato rápido mas que senti como um choque elétrico. Ele então se virou e seguiu Mary pelo corredor. Só depois que a porta se fechou e seus passos se afastaram que soltei o ar que nem sabia que estava prendendo. Minhas mãos tremiam ligeiramente. “Meu Deus. Como esse homem é… sensual. Cada olhar, dele me faz estremecer, como se fosse um toque intimo. Eu nem sabia que isso um dia ainda seria possível. Não depois do que aconteceu… Abanei a cabeça, tentando me recompor. "Esquece isso, Hellen. Concentra no teu trabalho. Isso deve ser apenas uma loucura da tua cabeça." Ainda olhei para a porta por onde eles haviam saído, meu coração batendo descompassado. "Agora, concentra-te no teu trabalho."