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O PREÇO DE AMAR VOCÊ
O PREÇO DE AMAR VOCÊ
Por: Joss Austen
CAPÍTULO 1: VIÚVA INDESEJADA

A chuva fina caía sobre o cemitério, lavando as lápides e as minhas lágrimas. Encostei-me friamente no caixão de carvalho, meu vestido preto grudando no corpo pelo vento úmido. Estava totalmente imersa em minha dor, cheia de lembranças boas, risos suaves e palavras dele em meu ouvido.

— Acho que ela terá o seu rostinho com formato de coração... esse rosto lindo que você tem, minha princesa.

— E como você sabe que é ela?

— Eu não sei, eu só sinto que é.

Toquei em minha barriga plana e disse:

— Acho que os homens sempre querem uma menina como filha só pra ficar mimando e estragando elas. Nós mulheres, por outro lado, gostamos da ideia de meninos porque são tão doces e companheiros... e lógico, protetores.

— Isso é verdade. E se fosse um menino, com certeza iria ser um superprotetor seu... mais que eu.

— Eeee, então melhor mesmo que seja menina, porque uma dose dupla de você ninguém aguenta — eu disse, brincando.

Ele sorriu e me abraçou.

— Não aguenta não?

E eu só confirmei, sorrindo, enquanto ele me enchia de beijos.

E naquele momento, sob aquela chuva fina, olhando para o caixão do meu marido que estava sendo guiado pelos condutores até onde seria sepultado, sorri entre lágrimas. Sim, porque no velório dele estava somente eu. Bem, aqui em Dallas não tínhamos parentes ou amigos; sou órfã, fui criada em um orfanato. E Peter, há pouco mais de um ano, rompeu com seus pais. Ainda mais depois do que aconteceu comigo, seria impossível ele continuar tendo contato com eles...

Ainda estava mergulhada nessas lembranças quando, de repente, fui interrompida por uma presença que me deixou sem ação. Recuei alguns passos atrás, meu rosto empalidecendo de choque.

— S-Sylvia?

A mulher à minha frente sorriu, com um gesto amargo e triunfante.

— Sim, querida. A própria.

“Meu Deus, o que essa mulher está fazendo aqui?” pensei deseperada.

Sylvia Thorne avançou, seu olhar um veneno puro, cercada por um séquito de pessoas bem-vestidas que me fitavam com desdém.

Engoli em seco, porém mantendo o olhar perguntei:

— O que faz aqui Sylvia? Não me diga que você veio…

Sua voz cortou o ar, alta e afiada, antes que eu pudesse continuar.

— O que você acha? — ela cuspiu, se virando para o grupo. — Que eu, como mãe, não tenho direito de enterrar meu próprio filho? Garanto que tenho muito mais que você!

Sua voz aumentou ainda mais, para que todos ali ouvissem, como se tudo fosse um palco e as pessoas ali fossem sua plateia.

— Além disso, preciso protegê-lo disso também, na hora de sua morte!

— Di... disso o quê? — balbuciei, me afastando instintivamente quando percebi dois homens enormes se aproximando de mim sob um olhar ordenador de Sylvia.

— De você! Protegê-lo de você, na hora do seu adeus final, sua assassina! Saia daqui agora!

Fiquei estática. O murmúrio de apoio ao redor foi como uma facada. Senti o chão ceder.

— Está louca, Sylvia? Você não pode fazer isso! Me expulsar do enterro do meu próprio marido!

— É claro que posso! Tenho todo o direito; sou a mãe dele! Agora, saia imediatamente daqui, sua assassina! Deixe meu filho em paz, pelo menos neste momento! — Ela gritou, histérica, para os homens. — Silas! Cain! Tirem essa mulher daqui imediatamente!

Ao ver os dois capangas se aproximando, seus olhos impassíveis, e a crueldade no olhar de todos aqueles que apoiavam Sylvia, não consegui mais respirar. Sem outra escolha, virei-me e fugi, deixando para trás o corpo do meu marido e qualquer vestígio de dignidade.

Ao sair do cemitério, fiquei totalmente desnorteada, sem rumo. Não consegui ir embora. Fiquei parada do lado de fora, escondida atrás de um grande carvalho, observando de longe o cortejo fúnebre enquanto uma nova leva de lembranças, ainda mais dolorosas e terríveis, substituíram as memórias doces que eu guardava.

“Não, querida. Não podemos fazer uma festa.”

Eu o encarei, confusa. “Mas... por quê, Peter?” Naquele momento, ele se calou, e o ar pareceu sair do meu peito. “Sã... São eles, não é? Seus pais... Eles não aprovam nosso casamento?” Minha voz era pouco mais que um sussurro rouco. “Porque eu sou pobre? Porque sou órfã?” “Sim,” ele admitiu, sua voz carregada de uma dor que eu não entendia totalmente na época. “Mas eles jamais vão se meter nas nossas vidas ou nos tirar a felicidade. E a minha felicidade está é ao seu lado…”

Confesso que sempre sonhei com um casamento bonito, daqueles “de véu e grinalda” como toda jovem sonha. Mas tive que engolir o choro e aceitar que seria daquele jeito simples, quase escondido. Quando Peter me abraçou e disse: “Vamos ficar longe deles. Eu vou te proteger”, eu acreditei. Eu confiei nele com toda a minha alma quando continou: “acredite meu amor, ainda vamos ser muito felizes”.

E eu acreditei e confesso que durante alguns meses, ele cumpriu o que prometeu, fomos tão felizes que era impossível não perceber isso. E agora eu, uma órfã que nunca tinha tido nada, finalmente me sentia segura nos braços de Peter.

Mas Sylvia Thorne jamais se contentou com isso. Ela era um furacão de veneno e manipulação. Quando descobriu onde morávamos, tornou nossa vida um inferno. Telefonemas a qualquer hora, cartas com ameaças veladas, aparecidas inesperadas na nossa porta. Peter lutou contra ela com unhas e dentes, até que a gota d'água fez ele romper relações de vez.

Eu pensei que, finalmente, estaríamos livres. Que o pior tinha passado.

Jamais imaginei que o verdadeiro inferno ainda estava por vir, muitos meses depois. E até hoje, meus dedos tremem e meu peito aperta quando me lembro daquele maldito dia em que…

O ronco agressivo de um motor cortou o ar, arrancando-me brutalmente do abismo da memória. Um carro preto, totalmente blindado e com os vidros escurecidos, aproximava-se lentamente da entrada do cemitério.

Meu coração disparou, batendo contra as costelas com tanta intensidade que quase podia ouvir. Ela tinha chamado reforços. Ou pior, era ele… o pai de Peter.

Não esperei para descobrir. O instinto de sobrevivência falou mais alto. Não queria e nem conseguiria encarar esse homem nos olhos não depois do que ele me fez, por isso fugi, mergulhando no labirinto de ruas laterais, correndo sem destino, com o som dos meus próprios soluços ecoando nos meus ouvidos. Eu não era mais bem-vinda nem para dizer adeus ao homem que amei…

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