Narrado por Anya
Dezembro…
Três dias para o Natal.
E eu acabava de perder mais um dos meus pequenos.
As pessoas dizem que médicos “se acostumam”, mas isso simplesmente não é verdade. Não importa quantos anos eu trabalhe na oncologia infantil — nunca vou me acostumar com o som dos pais desabando, com a sensação de fracasso, com o vazio que a morte deixa na nossa ala.
Eu estava destruída.
A primeira coisa que fiz foi ligar para Hellen. Só ela conseguia me tirar daquele buraco escuro onde eu sempre caía quando perdia um dos meus anjinhos.
Quando desliguei, me senti um pouco menos pesada. Com o coração doendo, fui entregar os presentinhos de Natal para as outras crianças. Ganhei beijos, abraços, risadinhas… e, por alguns minutos, o hospital pareceu um lugar mais leve.
Saí da ala infantil respirando fundo e fui em direção à saída, passando pela urgência. A movimentação estava caótica. Enfermeiros, cirurgiões e paramédicos corriam.
— Tiroteio em uma boate — ouvi alguém dizer.
Continuei anda