Narrado por Hellen
O primeiro ano depois de tudo que passou, foi como quem atravessa uma névoa densa: a gente vai, respira, sobrevive… mas não esquece. E, naquela madrugada silenciosa, percebi que Sérgio ainda vivia preso às sombras que tentou deixar para trás. Acordei com o sobressalto dele, o corpo quente de suor, a respiração pesada como se tivesse corrido quilômetros dentro de um pesadelo.
Sentei-me devagar e toquei seu ombro.
— Sérgio… amor… — sussurrei.
Ele abriu os olhos, arregalados, perdidos, como se não soubesse em que mundo estava. Por alguns segundos, foi só silêncio. Depois, a culpa voltou a tomar forma nos olhos dele.
— De novo — murmurou, passando a mão pelo rosto. — Esses sonhos… não consigo impedir, Hellen. Parece que Peter está sempre ali… me olhando… como se eu tivesse falhado com ele. E falhei.
Meu coração apertou. Para ele, aquela dor nunca tinha deixado de ser um corte aberto.
— Você não falhou, Sérgio — falei com firmeza, mesmo que minha voz tremesse. — Você per