Horas Depois
Lucca chegou mais cedo naquela noite. O relógio mal passava das sete quando a chave girou na porta. A sala ainda cheirava a madeira encerada e à vela de baunilha que ele acendera no fim da tarde, tentando criar um ambiente acolhedor. Queria estar ali antes dela, presenciar o momento em que Amanda cruzasse a porta, com aquele jeito distraído de existir, o som leve dos saltos no piso, o suspiro profundo que ela soltava ao finalmente estar em casa — com ele.
Mas quando Amanda entrou, algo estava errado.
Aquela mulher que surgira no vão da porta parecia com ela, mas não era a mesma.
Ela sorriu. Sim. Mas não do jeito que costumava. O sorriso foi técnico. Rápido. Frio. Um reflexo condicionado como os que ela dava ao final de reuniões ou ao encontrar conhecidos na rua. E quando disse "oi", a voz não veio acompanhada de alma — só de uma educação automática que feria mais do que um silêncio.
— Oi, meu amor — ele respondeu, a voz baixa, como se já sentisse o chão se abrindo sob seu