O ar do lado de fora da mansão parecia outro. Mais leve, mais limpo. Mas Amanda sabia que aquilo era ilusão. O céu ainda estava encoberto, e uma brisa insistente levantava os fios soltos de seu cabelo, roçando seu rosto como dedos frios.
Ela desceu os últimos degraus da escada com o celular na mão, sem destino certo. As sandálias batiam baixas contra o piso de pedra, cada passo um esforço para manter a compostura que ela quase perdera no andar de cima.
Assim que cruzou os portões da frente, parou.
O portão de ferro se fechou atrás dela com um estalo metálico. Aquilo a fez piscar — como se acordasse de um transe.
Respirou fundo.
Mas o ar parecia não alcançar o fundo dos pulmões.
Tudo dentro dela latejava.
O confronto entre Lucca e Daniel... ela não precisava estar na cozinha para sentir. O peso daquelas palavras não ditas, o embate velado entre os dois, os olhares que falavam mais que os gestos — tudo havia sido tão palpável quanto o calor da caneca de café em suas mãos minutos antes.