Daniel leu e releu o endereço no visor do celular, como se pudesse desmentir o que via. Como se aquele pequeno número piscando em azul não fosse a sentença final de um julgamento silencioso que ele mesmo provocara. Rua Gael, 134. Uma coordenada geográfica do fim. O ponto exato onde Amanda havia enterrado o que restava deles.
Ele jogou o celular no banco ao lado, respirando como quem lutava contra o próprio corpo. Os pulmões doíam. O peito ardia com um peso que não vinha do físico — era memória condensada, era ausência que sufocava.
Os olhos fixaram o céu, agora tingido de tons mais escuros, como se até o firmamento compreendesse a gravidade daquele instante. As nuvens dançavam preguiçosas, alheias ao caos dentro dele.
"Ela está indo embora de mim. De verdade, agora."
As palavras ecoavam como marteladas em sua cabeça, descompassadas com o que sobrava do coração. Pela primeira vez em anos, ele sentiu medo. Não o medo da rejeição, nem do fracasso. Mas o medo de perder para sempre algo qu