A mansão estava mergulhada num silêncio denso, espesso como fumaça. O céu lá fora pesava num tom metálico, quase violento, enquanto trovões abafados rolavam à distância, como presságios. Daniel entrou devagar, o ar morno lá dentro contrastando com o frio que parecia ter se instalado em seu peito desde o fim daquela tarde. A cada passo sobre o piso de madeira, o som ecoava como sussurros de memórias mal enterradas.
Passava das dez.
Não havia sinal de Lucca — e, sinceramente, ele esperava que não houvesse.
O que importava era que Amanda estava lá.
Ele soube antes mesmo de vê-la. O perfume dela — floral e amadeirado, doce como lembrança e cruel como ausência — pairava no ar, impregnado nas paredes, misturado ao cheiro do vinho envelhecido e ao verniz antigo do assoalho.
A luz da sala estava apagada. Mas a porta entreaberta deixava passar uma nesga de claridade da rua. O suficiente para que ele visse sua silhueta. Amanda estava sentada no sofá, o corpo levemente inclinado, uma taça entre