O céu ainda era um manto cinza-escuro quando Amanda estacionou diante da delegacia no centro de São Paulo. O local exalava uma familiaridade amarga: cheiro de café passado há horas, paredes descascadas, a movimentação lenta e desgastada dos que ali viviam a rotina de prisões, esperas e fichamentos. Não era onde ela queria estar antes das sete da manhã. Mas também não era a primeira vez que a vida a arrastava de volta ao passado.
Ela ajeitou o casaco, respirou fundo, engoliu o gosto de ferro da ansiedade e empurrou a porta com firmeza.
O policial da recepção, um homem de uns cinquenta anos com bigode falhado e olhos cansados, ergueu o olhar de trás do balcão.
— Posso ajudar?
— Amanda Costa Mancini. Vim buscar o Eduardo Costa.
O nome de casada ainda lhe soava estranho na boca. Formal. Quase deslocado naquele ambiente.
— Parente? — ele perguntou, desconfiado.
— Sou tia dele.
O homem se levantou, sem qualquer pressa, e sumiu por uma porta lateral. Amanda ficou ali, em pé, cercada pelo sil