O som metálico do portão automático abriu um rasgo na inconsciência turva de Daniel. Não foi um despertar — foi uma puxada brutal para a superfície, como um afogado arrancado à força da água escura.
A cabeça latejava com violência. O estômago embrulhado. O hálito amargo da bebida velha se misturava ao gosto de arrependimento seco. Ele piscou contra a luz que entrava tímida pela fresta da cortina, o quarto em penumbra como o estado em que ele próprio vivia.
Sentou-se na cama devagar. O mundo girou.
Por um instante, considerou deitar de novo e fingir que o dia não havia começado. Mas a casa estava acordada. E ela estava lá embaixo.
Forçou o corpo a levantar. Cada passo até o banheiro foi uma luta contra si mesmo. No espelho, o reflexo era um castigo: pele pálida, olheiras marcadas, um homem que não sabia mais onde terminava a culpa e começava o desespero. Passou a mão no rosto, como se pudesse apagar tudo com um gesto.
Vestiu qualquer coisa. Uma camiseta velha. Um moletom amarrotado. Nã