MAVI NARRANDO
Aquela voz cortou o silêncio como uma lâmina. Grossa, firme, entalhada com um sotaque que dava a qualquer ordem um peso ainda maior. Eu não precisei me virar pra saber que era ele. A presença dele preenchia os espaços como se o ar se encolhesse com medo.
Vitório Morelli.
Meu corpo gelou. Senti um arrepio subir pela coluna, como se a própria espinha reconhecesse o perigo antes da mente entender. Lentamente, me virei.
Ele estava ali.
De terno escuro, mãos nos bolsos, expressão ilegível. Os olhos eram gelo. Gelo que queimava. E quando os cravou nos meus, não havia espaço pra fuga. Nem desculpa. Nem chance de argumentar.
— Tu n’as pas le choix.
Como assim, eu não tenho escolha?
Me obrigar a assinar algo que eu nem sei o que é? Era isso mesmo? E ainda me encarar como se eu fosse a parte errada da equação?
Enzo abaixou a cabeça e recuou um passo. Eu continuei parada, com os papéis ainda nas mãos, sem saber o que fazer. Vitório deu um passo adiante. O som dos sapatos no piso e