Na manhã seguinte, Mila acordou antes do sol nascer por inteiro.
A casa estava tão silenciosa que, por um instante, ela teve a impressão de que tudo o que acontecera no dia anterior tinha sido um sonho.
Mas quando virou o rosto, viu o recorte de jornal sobre a mesa.
E sentiu o mesmo aperto no peito.
Aquilo era real.
O acidente era real.
O silêncio também era real.
Ela ficou alguns minutos sentada na beira da cama, respirando devagar.
Tentou imaginar a mãe, tão jovem, envolvida numa tragédia da qual ninguém nunca falou.
E depois, a imagem da menina que ela fora, ouvindo sempre a mesma versão simplificada da história: "Ela foi embora."
Como se isso explicasse tudo.
Como se ninguém precisasse perguntar mais nada.
Passou o resto da manhã em pequenos gestos automáticos.
Lavou a louça, regou as plantas, dobrou algumas roupas que estavam esquecidas sobre a poltrona.
De vez em quando, o olhar voltava para a mesa.
O jornal parecia um lembrete vivo de que nada do que ela pensava saber era tão s