Mila acordou antes do despertador.
Era cedo, tão cedo que o céu ainda não sabia se clareava ou escurecia.
Mas, pela primeira vez em semanas, sentia o corpo leve, sem aquela pressa difusa que sempre a acompanhava.
Levantou devagar, arrumou a cama e foi até a cozinha.
A receita da mãe continuava sobre a mesa, dobrada com cuidado, como se esperasse.
Passou os dedos sobre o título escrito à mão — Supa e ngrohtë për zemrën.
Leu outra vez o bilhete no rodapé.
"Para quando precisar lembrar do que importa."
Pensou que talvez fosse isso.
Ela precisava.
Precisava fazer algo com as mãos, algo que não fosse vasculhar o passado ou adiar decisões.
Abriu os armários, conferiu o que tinha, anotou numa folha o que faltava.
No final, olhou a lista e sorriu sozinha.
Talvez cozinhar fosse só mais uma maneira de ficar.
No fim da manhã, foi à mercearia do centro comprar os ingredientes.
A dona, uma mulher baixa e falante, ajudou a separar tudo: legumes frescos, ervas, uma porção generosa de pão.
Na hora de