Mila acordou com o vento balançando as telhas. Por um instante, pensou que fosse uma tempestade, mas quando se levantou e espiou pela janela, viu que o céu estava limpo, de um azul pálido.
Era só o vento sussurrando no beiral — lembrando-a de que a casa continuava viva, mesmo quando tudo parecia quieto.
Tomou café sem pressa e ficou algum tempo sentada à mesa, relendo os recados que tinha anotado no caderno vermelho. Pequenas observações sobre os móveis, sobre o quintal, sobre a própria solidão.
Mais tarde, como se algo a puxasse, desceu a escada estreita que levava ao sótão. Não visitava aquele lugar desde que tinham explorado juntos pela primeira vez — naquela ocasião, tudo parecia tão inóspito que ela só conseguia pensar em vender a casa o mais rápido possível.
Agora, porém, sentia que precisava voltar ali. Precisava entender o que ainda restava escondido naquele espaço esquecido.
Empurrou a porta com cuidado. O ar tinha cheiro de madeira úmida e poeira antiga. Feixes de luz escapa