Naquela manhã, Mila acordou com uma única certeza: chega.
Chega de nostalgia.
Chega de pesar cada passo como se o chão fosse desabar.
Chega de ser a versão suspirante e sofrida de si mesma.
Abriu a janela da sala com força, deixando o vento frio entrar sem pedir licença.
— Pronto, Berat. Hoje você vai ver quem é Mila Dervishi de verdade.
Fez café, amarrou o cabelo num coque desleixado e deu uma volta pela casa com olhar crítico.
Parou diante da parede da sala — aquela, meio desbotada, onde o reboco aparecia perto do rodapé.
Era feia.
Era sem graça.
Era… perfeita pra começar.
Dez minutos depois, Mila descia a rua de cascalho em direção ao vilarejo.
Tinha colocado um vestido velho, um casaco de lã por cima e um tênis que já tinha conhecido dias melhores.
Mas o olhar? O olhar estava afiado.
Comprou tinta num tom que os albaneses chamavam de “branco de céu limpo” — o tipo de branco que quase reluz quando o sol bate.
Pegou um rolo, esponjas, uma bandeja plástica e um par de luvas.
Na saída