A madrugada era funda.
Silenciosa.
Quase cúmplice.
Clara desceu os degraus da escada da cobertura de Dante com os pés nus e a alma semi-pelada.
A camisa dele — branca, larga, com cheiro de colônia quente e testosterona bem posicionada — batia na coxa como uma confissão.
Os cabelos? Presos de qualquer jeito.
O andar? Lento. Como quem ainda sentia o eco do que aconteceu horas antes.
Na cozinha, acendeu só a luz pendente sobre a bancada.
Achou o que parecia ser um banquete esquecido por milionários: frutas frescas, queijos artesanais, água com gás, pão crocante…
Pegou um figo. Um pedaço de brie.
Mordeu o que dava.
Mas o que roía por dentro era outra coisa.
Celular vibrou.
Grupo: “Irmãs do Último Gemido”
(Lívia, Rebeca, Nanda, Clara)
Lívia:
VC MORREU????
porque se morreu, morreu gostando
Rebeca:
Se não responder até 3h da manhã, vamos dar parte pra polícia
e avisar que você foi sequestrada por um CEO comedor em série
Nanda:
ou você tá presa numa cabeceira de cama de mármore italiano
Clara