Clara pegou a bolsa devagar.
Sem barulho.
Sem pressa.
Sem coragem.
O sol ainda não tinha nascido, mas os primeiros tons azulados já começavam a acender a cidade do lado de fora da janela.
Ela dobrou a camisa que usava. Sim, a camisa dele. Colocou na poltrona. Calçou os saltos de volta, ainda sem prender direito.
Olhou pro espelho. Cabelo bagunçado, pele marcada, olhos com sono… e brilho. Muito brilho.
A marca de um homem que soube ler a pele dela como um livro em braile — e escreveu ali uma história que ainda latejava.
Ela passou pela bancada da cozinha antes, pegou um morango da fruteira como quem tentava distrair o coração. Mastigava devagar, entre a dúvida e o orgulho.
Tirou o celular da bolsa, abriu o grupo com as meninas.
CLARA: viva. de pé. parcialmente vestida.
CLARA: e considerando fugir antes que o vilão acorde e me peça café na cama.
Mas quando deu dois passos em direção à porta…
— “Vai fugir?” — a voz veio rouca, arrastada, e gelou até a alma entre os ombros dela.
Clara par