Rose mal entrou no carro, o corpo ainda fumegando da decisão, quando o celular vibrou com um número conhecido. Não era só um número: era o fio de ligações que sempre a conectara ao mundo sujo das pistas e dos rastros — o nome na tela era ‘A.R.T.U.R.’, apelido que, entre poucos, evitavam pronunciar alto.
Ela respirou fundo antes de atender.
— Artur. — a voz saiu contida, mas havia aço por baixo.
Do outro lado, silêncio. Um suspiro. Um som estranho, como alguém ajeitando o fone num lugar com vento.
— Rose... — a voz dele se quebrou.
— Onde você estava? — o tom dela não permitia rodeios. — Era sua obrigação me avisar se… se acontecesse algo. Você sumiu.
Um soluço quase inaudível. — Eu sei. Me desculpa. Me desculpa demais, mestre.
Aquelas duas palavras, “mestre” e “Artur”, sempre vinham embaladas por culpa e talento. Rose conteve a vontade de cortar mais fundo. Precisava respostas, não drama.
— Fala. — curvou-se para frente, sentindo o carro em movimento, a cidade passando como sombra.
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