A claridade branca do hospital cortava como lâmina.
Rose piscou várias vezes, tentando distinguir o teto, o zumbido dos monitores, o cheiro de éter.
Por um instante, achou que ainda sonhava.
— Calma, filha… — a voz do pai veio mansa, mas trêmula.
Paulo segurava a mão dela, o olhar úmido e atento. — Você desmaiou. Está tudo bem agora.
Rose levou a outra mão à cabeça. O peso, a dor, o eco.
Mas não era apenas o corpo — era a enxurrada de imagens.
Pedro.
O sorriso torto.
O treino.
O beijo roubado.
A explosão.
O sangue.
O crucifixo sujo de lágrimas.
Ela arfou. O coração disparou como se tentasse alcançar o passado que voltava em golpes secos.
— Pai… — murmurou, a voz rouca. — Eu… lembro dele.
Paulo se inclinou, surpreso. — De quem, filha?
— Dele. — os olhos dela marejaram. — Do Pedro.
E então as lembranças vieram como uma tormenta descontrolada:
a cobertura, os treinos, o acidente, o sangue no chão, o rosto dele desaparecendo na fumaça.
Rose cobriu o rosto com as mãos.
— Eu o perdi… — suss