O tempo no hospital passava como se o mundo tivesse esquecido de andar.
Horas se estendiam entre o som do monitor e o sussurro das enfermeiras.
Rose ainda não sabia o que fazer com o fato de estar viva.
Nos primeiros dias, a rotina era a mesma: remédios, perguntas, olhares preocupados e silêncio.
O pai, Paulo, permanecia quase o tempo todo sentado ao lado da cama.
Às vezes cochilava, às vezes apenas a observava — como quem teme que o sono a leve de volta para o nada.
João era mais falante. Tentava contar histórias da infância dela, mostrar fotos, lembranças, músicas.
Rose ouvia tudo com atenção, mas as palavras não entravam.
Cada memória contada parecia pertencer a outra pessoa.
Era como assistir à própria vida pela janela de um trem em movimento.
— Você sempre foi teimosa, sabia? — João dizia, tentando sorrir. — Quando a gente era criança, você subia em árvore, brigava com os meninos, dizia que queria ser policial...
Rose o olhou, intrigada.
— Parece uma boa história. Pena que não le