O amanhecer chegou tímido, cinzento, como se o céu ainda temesse abrir-se depois de tanta chuva.
Na mansão, o silêncio era profundo. Só se ouvia o tique-taque do relógio antigo e o barulho do café passando na cozinha.
Rose desceu as escadas devagar.
Os olhos ainda estavam inchados, a cabeça pesada, mas o coração… o coração estava estranho — leve e apertado ao mesmo tempo.
A noite anterior parecia um sonho confuso.
As cartas, o choro, o abraço, o beijo que prometia recomeço.
Tudo ainda dançava na memória, como uma canção que ela não sabia se queria esquecer ou repetir.
Pedro ainda dormia — ela o deixara no sofá, coberto com uma manta, exausto.
Parecia em paz.
E aquilo, por si só, já bastava.
Rose atravessou o jardim molhado e foi até o dojo nos fundos da propriedade.
O cheiro de madeira encerada e tatame limpo trouxe lembranças antigas — do pai, do tempo em que a vida era mais simples, mais reta, como o golpe bem dado de um soco limpo.
Pegou o celular e discou sem pensar.
— Filha? — a