A chuva caiu pesada naquela noite — grossa, insistente, o tipo de chuva que parece lavar memórias que ninguém pediu pra voltar.
Rose estava no quarto de Pedro, ajeitando uma pilha de roupas sobre a poltrona, enquanto ele terminava de revisar alguns papéis no escritório ao lado. O som das gotas batendo contra o vidro enchia o silêncio de um jeito estranho — como se cada batida tivesse algo a dizer.
Ela gostava de noites assim. Trazia uma calma torta, uma sensação de abrigo.
Mas, naquela noite, algo diferente pesava no ar.
Passou os dedos distraída sobre o aparador ao lado da cama — onde ficavam os livros, o relógio e algumas lembranças antigas. O toque fez escorregar uma moldura pequena, que caiu no chão com um estalo seco.
— Droga… — murmurou, abaixando-se para pegar.
A moldura se partiu no canto, mas o vidro ainda segurava a foto.
Rose a ergueu e o mundo pareceu parar.
Na imagem, uma mulher sorria. Um sorriso calmo, bonito, rodeado de luz — o tipo de sorriso que só alguém que conhece