Ele continuou, a voz embargada pela lembrança.
— Eu estava estudando há dois anos para um novo trabalho. Esse trabalho seria a estrela da Reserva Montenegro. Ao menos, eu queria que fosse. Ela não vendeu só o meu projeto, vendeu também o meu esforço. Quando eu descobri, eu só queria sumir. Viajei a Buenos Aires e passei alguns dias incomunicável. Eu acabei com tudo, e depois, descobri que ela estava junto com um concorrente, ganhando para passar nossas informações.
A raiva, a dor, o desespero na voz dele, eram palpáveis. Eu me identifiquei com a sua dor, com a sua traição. O Andrey, a Mary... A história se repetia, mas em um universo de luxo e negócios.
— Meu avô ficou enfurecido quando soube. Eu não podia ter confiado nela, ele estava certo.
Ele falava com uma culpa que me doía. A culpa por ter confiado em alguém que o traiu. A culpa por ter se deixado levar. A vulnerabilidade dele, que eu tinha visto em Portugal, agora estava ali, na França, em toda a sua plenitude. Eu, a fotógrafa