capítulo 08

Fim de evento, galera! O leão de hoje matamos, que venha o de amanhã!", falei, brincando, enquanto tomávamos um vinho no salão do evento. A sensação de dever cumprido era boa, e o vinho, levemente refrescante, parecia selar a vitória do dia.

"— Amanhã vai ser o dia, galera!", falou Juliano, insinuando que seria ainda mais cansativo que hoje.

"— Quando chegar no hotel só quero dormir", falou Cleo, já cansada. A exaustão dela era visível, mas a minha, por outro lado, era mais interna.

"— Vamos, galera, que a Helena também precisa descansar para amanhã. Ela não se sentiu bem o dia inteiro", falou Fagner, sempre cuidadoso, me entregando um copo de água.

Juliano se prontificou a pedir o táxi, e eu agradeci, aliviada com a ideia de poder me deitar. Mas, no meio da correria, Cleo me olhou de uma forma curiosa, com um misto de preocupação e suspeita no olhar. Era um olhar que eu conhecia bem, um olhar que dizia: "Eu te conheço, e sei que tem algo errado". O olhar dela me deixou inquieta, mas decidi não dar importância. Apenas sorri, agradecendo a preocupação.

No quarto, tirei a roupa e fui direto para o banheiro. O chuveiro, o único lugar onde eu podia ter um mínimo de privacidade, parecia um refúgio. Enquanto a água caía, Cleo, do outro lado do box, tirava a maquiagem.

— Amiga, eu estou preocupada com você. Esses mal-estares não são normais. Não seria melhor irmos a um médico? Amanhã e domingo vão ser bem puxados — a voz dela vinha abafada pela água, mas a preocupação era nítida.

— Relaxa, amiga. Foi só um mal-estar da viagem e eu também devo ter comido alguma porcaria — tentei soar convincente, mas a verdade é que as minhas palavras soavam vazias até para mim mesma.

— Amiga, será que... — Cleo parou. O silêncio repentino e a pausa na sua fala foram suficientes para que a pergunta, não dita, se formasse na minha mente.

Entendi o que ela queria dizer. A preocupação que eu vinha tentando ignorar percorreu meu corpo como um choque. Me enxuguei rapidamente, peguei a toalha e forcei um sorriso.

— Não, amiga. Não tem nem perigo — falei, rindo, mas por dentro, a preocupação estava me consumindo.

Meus pensamentos voltaram para a noite com Léo. A nossa noite sem preservatimos. O abraço. O bilhete. A notícia. O mal-estar. As náuseas. A mente, que antes estava tão focada no trabalho, agora girava em torno de uma única pergunta: "Será?". E o medo, o pânico, se instalou.

Saí do banheiro, ainda meio cambaleante, e vesti uma roupa velha e confortável que tinha na mala. Me joguei na cama, a dúvida de Cleo ecoando em minha cabeça, misturando-se com o enjoo persistente. O sono veio, pesado, mas não durou muito. Fui acordada por um enjoo ainda mais forte, e mal tive tempo de chegar ao banheiro antes de vomitar.

"Foi o vinho que tomei no salão do evento", disse a mim mesma, tentando soar convincente, mas a voz tremia. Graças a Deus, Cleo não escutou nada. Escovei os dentes com pressa, o gosto amargo na boca parecia uma lembrança constante do mal-estar. Voltei para a cama, já era quase dia.

Peguei o celular, a mente ainda meio confusa, e comecei a rolar as notícias. E lá estava ele. Léo Montenegro. A foto mostrava-o em uma feira de vinhos, apresentando seu mais novo trabalho. Meu coração errou as batidas, a imagem dele ali, tão imponente, tão... inatingível. A raiva voltou. Aquele canalha não teve nem a decência de me dar um bom dia, mas era tão lindo.

As palavras de Bruna voltaram à minha mente: "Quem é o Andrey perto de quem dormiu com o magnata do Léo Montenegro?". Eu ri, mas o riso era amargo. A história se repetia, mas com uma intensidade diferente. Andrey me traiu, me desiludiu. Léo me usou, me deixou com um bilhete. E eu, por mais que tentasse me convencer de que era só cansaço, não conseguia ignorar o mal-estar, a náusea, o cheiro de comida que me enjoava.

Aquela feira de vinhos. Era tão Léo. Os olhos dele na foto, o sorriso de canto, me trouxeram de volta àquela noite. O beijo.Nossos corpos entrelaçados. O vinho. O abraço. E a pergunta de Cleo, "Será que?". Sim, a dúvida pairava no ar, e eu não conseguia mais ignorar. O medo, o pânico, eram reais. E a cada segundo, a probabilidade daquela dúvida ser uma realidade ficava mais forte.

O dia amanheceu, e com ele, a promessa de mais trabalho. Descemos para tomar café, e meu celular tocou. Era Bruna.

"— Amiga, cheguei em SP!", a voz dela soava alegre, um bálsamo em meio à minha inquietação. Ela me contou que agora dividiria o quarto comigo e com a Cleo.

Alguns minutos depois, ela chegou. Assim que subimos para o quarto, Cleo precisou sair para resolver umas coisas com Fagner e Juliano, o que me deu a oportunidade perfeita para conversar com Bruna a sós. Tranquei a porta, o coração batendo forte, e comecei a despejar tudo. Contei sobre os mal-estares, os enjoos, o vômito da madrugada. Falei da dúvida, do medo que a pergunta de Cleo tinha despertado em mim.

Bruna me ouviu, com a atenção que só uma amiga verdadeira pode dar. Quando terminei, ela me olhou, os olhos arregalados, e disse, com a voz baixa:

"— Meu Deus, Helena... É do Léo."

Eu desviei o olhar, sentindo um nó na garganta. "Se realmente for o que estou pensando, sim, amiga, é dele", eu disse, a voz embargada. "Até porque, desde o Andrey, não fiquei com mais ninguém." A confissão era um alívio e um terror ao mesmo tempo. E a ficha, que antes estava apenas balançando, agora caía com toda a força. Eu estava, possivelmente, grávida. E o pai era o magnata que tinha me abandonado com um bilhete.

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