Capítulo 07

A sexta-feira chegou, e com ela, a bagagem de trabalho que eu precisava. Arrumando a mala, a sensação era de alívio. Era hora de focar em algo que não envolvesse decepções e bilhetes de magnatas. Encontrei o pessoal no ponto de encontro, e a Cleo veio correndo me dar um abraço de urso.

"— Ai, que gostosa!", ela falou, me apertando, e o resto da turma caiu na risada.

Apesar da empolgação geral, um mal-estar tomou conta de mim durante toda a viagem. Não era algo físico, era mais uma inquietação interna. Mas não falei nada, não queria estragar a empolgação da galera. Chegamos ao hotel. Não era luxuoso como o Milani, que eu tinha conhecido na companhia de Léo, mas era confortável e acolhedor para a nossa estadia. Pelo menos aqui eu não corria o risco de encontrar bilhetes surpresa ou de ser tratada como uma distração. Era apenas Helena, a fotógrafa, pronta para trabalhar.

Descemos do carro, e o alívio de estar em terra firme foi instantâneo, mas a sensação de enjoo persistia. Fagner, sempre o mais atento, se aproximou de mim, franzindo a testa.

— Você está bem, Helena? Está pálida.

Cleo, que estava logo atrás, me olhou e arregalou os olhos.

— Meu Deus, Helena! Você não está com uma cara boa.

Juliano, com seu jeito mais calmo, veio na minha direção.

— Vem cá, Helena, vamos tomar uma água. Quando eu era criança também enjoava em viagens.

A tentativa de me tranquilizar com uma piada boba funcionou um pouco. Fagner pegou minhas bagagens, e subimos para os nossos quartos. Agradeci a preocupação deles, mas evitei dar detalhes. A verdade era que eu não sabia se era apenas o cansaço da viagem, ou se a náusea tinha outro motivo. O único pensamento que me acalentava era a cama, e a possibilidade de um sono profundo, longe de magnatas e corações partidos.

Cleo, a minha parceira de quarto, me olhou com a preocupação estampada no rosto. Ela já me conhecia bem o suficiente para saber quando eu tentava disfarçar o que sentia.

— Toma um banho frio, amiga. Vai ajudar a relaxar, ela falou, com a voz suave, oferecendo uma solução simples para um problema complexo.

— Eu tô bem, amiga, relaxa. Vou tomar um banho e deitar um pouco, respondi, forçando um sorriso. Eu sabia que ela não acreditava, mas não queria preocupá-la mais do que o necessário. Fui para o banheiro, sentindo a água fria lavar meu corpo, levando um pouco do cansaço e da inquietação. Saí do banheiro, deitei na cama e, antes que pudesse pensar em qualquer coisa, o sono me apagou. Era como se o corpo tivesse desligado, em um último esforço para me proteger do turbilhão de pensamentos que a mente insistia em reviver.

A voz de Cleo me tirou do sono profundo. Era suave, como se não quisesse me incomodar, mas a urgência era clara em seu tom.

"— Helena, acorda. Está dando a nossa hora, você precisa se vestir", ela disse, ajeitando a própria roupa em frente ao espelho.

Levantei-me da cama, ainda um pouco zonza. O mal-estar parecia ter diminuído, mas a cabeça ainda estava pesada. Olhei para a Cleo e forcei um sorriso. O dever me esperava, e eu tinha que ir. Tinha que ir fazer aquilo que fazia de melhor: fotografar. Afinal, quando estava fotografando, eu esquecia do mundo, esquecia dos magnatas, dos bilhetes, das traições. O foco era na câmera, na luz, nas pessoas. A fotografia era o meu refúgio, e naquele momento, era o único lugar onde eu me sentia segura.

Me vesti. A roupa, escolhida a dedo para a ocasião, parecia mais uma armadura do que um traje de trabalho. Peguei minha câmera, minha extensão, minha voz silenciosa. Distribuí os crachás para Cléo, Fagner e Juliano, e a sensação de equipe, de união, me deu um alívio momentâneo. Pedimos um táxi e fomos. Era um evento de moda, três dias inteiros de correria, flashes e tendências.

Adentrando o local, a grandiosidade do evento me atingiu em cheio. As luzes, a música, o burburinho. Mas, ao passar perto do buffet, uma náusea repentina me pegou de surpresa. O cheiro de comida, a mistura de temperos, fez meu estômago embrulhar.

"Amiga, tudo bem?", disse Cléo, percebendo a minha palidez.

"Vou pegar uma água pra você enquanto não começamos", falou Juliano, sempre solícito.

Agradeci, e tomei a água, sentindo-me um pouco melhor. O evento começou, e a mágica aconteceu. Os flashes, os cliques, o foco total no trabalho. O mundo exterior desapareceu. Ali, naquele momento, só existia eu, a fotógrafa que amava a profissão. O mal-estar, a decepção, os bilhetes, o magnata... Tudo ficou em segundo plano, apagado pela paixão que eu sentia pelo meu trabalho. Era o meu refúgio, a minha salvação. E, por um tempo, a única coisa que importava era a câmera, e a história que eu precisava contar através das minhas lentes.

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