Capítulo 05

Acordei no dia seguinte passei o café, e o cheiro amargo e quente me trouxe de volta à vida. Sem compromissos na agenda, decidi me dedicar às fotos do casamento, um trabalho que, por ironia, tinha me salvado de uma imersão completa na minha própria tristeza. Abri o notebook, mas a barra de notificações chamou minha atenção. Não sei por que, talvez por puro tédio, resolvi clicar.

A notícia saltou na tela. A foto, grande e em alta definição, parecia me encarar. Não havia dúvidas. Os olhos intensos, o sorriso de canto. Era ele. O texto falava do magnata, o herdeiro da família Montenegro, que voltara para tomar a frente dos negócios da família após anos de estudo na Espanha. Leo Montenegro.

O café esfriou na xícara. O estômago embrulhou com a surpresa. Ele. Aquele que passara a noite comigo, rindo e conversando na beira da piscina, o mesmo que deixara um bilhete na mesa de cabeceira antes de ir embora. Leo Montenegro. A notícia na tela trazia um choque de realidade inesperado, a imagem do homem ao meu lado agora com uma moldura de manchete e o peso de um império.

Eu não acredito que dormi com Léo Montenegro," murmurei, a voz fraca, mais para mim mesma do que para o café que já tinha esfriado. As palavras pareciam sair da boca de outra pessoa. Minha mente dava voltas, tentando encaixar a imagem do homem ao meu lado na piscina com a foto do magnata da notícia. Era o mesmo sorriso, o mesmo olhar. O mesmo ar de quem estava no controle, mesmo quando a voz traía a tensão.

A confusão me consumiu. Léo. Montenegro. Um herdeiro. Um magnata. E eu ali, uma fotógrafa, abandonada com um bilhete. A ironia era cruel. O choque era maior do que a decepção. Senti um frio na espinha. Não era só um cara. Era o cara.

Peguei o celular e liguei para a Bruna.

"— Preciso de você aqui em casa, amiga. Agora."

Bruna era uma das poucas pessoas em quem eu ainda confiava plenamente, e naquele momento, eu precisava desesperadamente de alguém em quem confiar. Ela chegou em pouco tempo, com o rosto franzido de preocupação. Assim que entrou, me joguei no sofá, estendendo o notebook para ela.

"Dorme com Léo Montenegro," falei, apontando para a notícia.

Ela leu, olhou para a foto e depois para mim, com a incredulidade estampada no rosto. Ela me ouviu relatar cada detalhe, desde o banho até o bilhete. Ela ficou sem acreditar, mas a incredulidade dela era diferente da minha. A minha era de choque. A dela, de choque com o que havia acontecido comigo.

"— Helena, você tem certeza que é o mesmo?" ela perguntou, com a voz baixa.

Eu apenas acenei com a cabeça, os olhos fixos na foto do homem que havia me chamado de perfeita. A perfeição que ele viu em mim era, talvez, a da vulnerabilidade, a da desilusão. E ele, o herdeiro, o magnata, apenas havia se aproveitado disso.

— Bruna, ele apenas me usou", falei, odiando o tom vulnerável da minha voz. Era como se a minha decepção com Andrey não fosse suficiente, e agora eu tinha que enfrentar a humilhação de ter sido apenas uma distração para um homem que vivia em outra realidade.

Bruna me olhou com uma ternura que só uma amiga de verdade consegue ter. Ela segurou a minha mão. "Imagina, amiga", ela disse, suavemente. "Às vezes, ele realmente te achou incrível." A voz dela era calma, tentando me dar um ponto de vista diferente, talvez para amenizar a dor. "O que um bilhete diz? Nada. E se ele te achou perfeita, talvez ele tenha se assustado com a própria vulnerabilidade."

Ela continuou, tentando construir uma teoria que fizesse sentido para nós duas. "Ele pode ter ficado assustado com o que sentiu, Helena. Ele pode não estar acostumado com a intimidade que vocês compartilharam. Ele pode ter fugido não por que te usou, mas por que se assustou com o que sentiu. Você pode ter sido um choque de realidade para ele."

Bruna sempre foi assim. Conseguiu ver o lado bom das coisas, mesmo quando eu só conseguia enxergar o pior. Ela sabia que eu precisava de uma dose de esperança, de algo que me tirasse daquele buraco de autocomiseração. "E, mesmo que não seja isso", ela continuou, "o problema não é você, Helena. O problema é dele. Não se coloque para baixo por causa de um homem que não soube o que fazer com a sua perfeição.

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