Capítulo 04

~HELENA~

Lá estava eu, no banco de trás do táxi, vendo a cidade passar. A raiva que sentia era como uma bola de fogo no peito, misturada com uma pontada de vergonha. "Que tipo de homem faz isso?", pensei. O bilhete, o café da manhã, o buquê de flores... tudo parecia uma piada de mau gosto, uma tentativa de compensar a covardia de não ter se despedido pessoalmente. Senti-me uma idiota por ter acreditado em um momento de paixão, por ter me entregado a um estranho que me tratou como um brinquedo descartável. Mas a raiva logo deu lugar à determinação. Eu precisava seguir em frente

Quando cheguei ao meu apartamento, com a sensação de abandono ainda pesando no peito, a primeira coisa que fiz foi colocar o celular para carregar. A tela acendeu, e com ela, o bombardeio de mensagens. Uma delas era da Bruna, minha amiga e também fotógrafa.

'Onde você tá, Helena? Preciso de você para fotografar um casamento, não vou conseguir ir'.

A primeira reação foi de rejeição. A última coisa que eu queria era estar em um casamento, rodeada de pessoas celebrando o amor, justamente depois de toda a minha desilusão. A ironia era cruel. A tentação de ignorar a mensagem foi grande, mas a ideia de ficar em casa, afogada nos meus próprios pensamentos, era ainda pior. A fotografia sempre foi a minha fuga, a minha paixão, o meu refúgio. Precisava disso.

Então, respondi que sim. Precisava pensar em outra coisa. Precisava de algo que me tirasse de mim mesma. Talvez, ao focar nas emoções dos outros, eu pudesse, por um instante, esquecer as minhas. Me concentrar em capturar a felicidade de um casal, mesmo que para mim, naquele momento, o amor parecesse uma farsa. Sim, eu precisava ir. Precisava trabalhar, não só para a Bruna, mas para a minha própria sanidade.

A água quente escorreu pelo meu corpo, levando consigo o cansaço da viagem e, por um momento, a dor da manhã. Mas a tristeza ainda estava lá, insistente, esperando que eu saísse do banho para voltar a me incomodar. Enquanto me vestia, liguei para Bruna e pedi para ela mandar um táxi e a localização. O meu corpo estava em movimento, mas a mente ainda estava presa na noite anterior, nas palavras de Léo, na sua fuga.

O casamento foi uma bênção. Não para os noivos, que pareciam radiantes, mas para mim. Foi um dia exaustivo, uma correria sem fim. Fomos quatro fotógrafos, mas eu não tive tempo para respirar, para pensar. Passei o dia inteiro correndo de um lado para o outro, buscando os melhores ângulos, capturando a emoção dos convidados, a felicidade dos noivos. E, em cada clique, eu me esquecia da minha própria dor. Eu estava tão focada no trabalho, que por um momento, esqueci o motivo de eu estar ali.

A fotografia, que antes era só um hobby, se tornou a minha salvação. A minha paixão me deu um propósito naquele dia, e a cada flash, eu me sentia mais forte, mais viva. O casamento, que eu temia tanto, foi a minha terapia. A celebração do amor me fez refletir sobre a minha própria vida, sobre o que eu queria, sobre o que eu merecia. E, ao final do dia, a exaustão física superou a emocional, me dando um alívio que eu não sentia há muito tempo.

Trabalho concluído. O táxi me deixou em casa, e o cansaço era tão grande que parecia ter corpo e peso. Eu só queria me jogar em algo macio e não pensar em mais nada. O apartamento estava silencioso, o que era um alívio depois de um dia inteiro de música, risadas e a pressão de registrar cada momento de felicidade.

Joguei a bolsa e a câmera em um canto, me arrastando até o sofá. Assim que meu corpo tocou a maciez das almofadas, a escuridão veio. Não foi um sono de sonho, foi um apagão. A exaustão física e mental se uniram para me dar um descanso que a minha mente agitada estava negando há tempos. Por um momento, não existiu Andrey, Mary, nem Léo. Só o silêncio e a paz que o cansaço me proporcionou.

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