Violeta
No dia seguinte, deixei Pietro com a Nina, ela era responsável por cuidar dele enquanto eu não estava por perto. Ela era filha de uns dos soldados, a sua mãe havia morrido no parto, eu só tinha a agradecer por ela, e a sra Lombardi que a indicou, e pagava um salário a ela por isso. Contudo, era triste passar o dia todo fora e pensar que, daqui a alguns anos, Pietro iria entender melhor a situação, mas não teríamos a conexão que eu gostaria. Passava mais tempo na mansão Lombardi descascando batatas do que com o meu filho. Eu jurava tentar ver o lado bom da situação, procurar uma saída, mas havia dias como aquele em que a minha maior vontade era confrontar o meu pai e perguntar: "Por quê?"
Tínhamos uma vida boa. Tínhamos um teto sobre as nossas cabeças e comida generosa e farta na mesa. Com o aumento das viagens em táxi aéreo, a nossa vida mudou radicalmente. No entanto, hoje vejo que, na verdade, estávamos vivendo uma mentira. Papai estava infiltrado na máfia, envolvido em atividades ilícitas, e não foi apenas ele que se sujou nesse caminho sombrio.
Nós também fomos atingidas, e, por mais que os nossos pais quisessem nos poupar da sujeira envolvida na maneira como ganhavam dinheiro, agora estávamos mais envolvidas do que eles podiam controlar.
Para piorar o meu dia, Alicia estava insuportável, tratando-me pior do que nunca. Eu tinha que suportar isso porque a família dela ocupava uma posição importante na hierarquia familiar quando se falava dos empregados, como eu já disse. Todos queriam a sua parte na pirâmide de hierarquia dos Lombardi, e de alguma forma, todos nós estávamos nas mãos dessa família.
Alguns estavam dispostos a subir às custas dos outros, e Alicia era claramente uma dessas pessoas.
O fato de a mãe dela ser chefe da cozinha e o pai ser chefe da segurança em algum turno que eu desconheço só fazia com que o ego dela inflasse ainda mais. Era como se ela se sentisse no direito de pisar em quem estivesse abaixo dela na hierarquia.
Enquanto eu estava na cozinha descascando batatas, o ar estava pesado, ninguém estava escapando da sua ira, e eu tinha quase certeza de que ela havia descoberto sobre o noivado do Consigliare.
Cada movimento era lento e deliberado, como se as batatas fossem o único refúgio da realidade complicada que vivíamos. Alicia, estava ajudando a sua mãe na cozinha como a segunda na cozinha, mas agia como se fosse uma rainha no seu castelo, era difícil a ver colocando a mão em algum prato, era sempre mandando, mandando, eu desconfiava que ela não soubesse fazer muito na cozinha, pois falava mais do que trabalhava.
Alicia, visivelmente fora de si, começou a me pressionar para que eu fosse mais rápida.
— Violeta, você precisa fazer isso mais rápido! Não temos o dia inteiro!— ela esbravejou, sua voz carregada de impaciência.
Eu suspirei e a olhei, enviando frases de autocontrole para o meu subconsciente, a faca nas minhas mãos eram muito afiadas.
— Estou dando o meu máximo, Alicia. — Respondi com cautela, os olhos baixos, mesmos que barulhentos, sabia que o brilho neles gritavam por liberdade.
No entanto, Alicia não estava disposta a aceitar a minha resposta. Os seus olhos se estreitaram, e ela parecia possuída por uma raiva inexplicável.
— Estou te pressionando porque você é lenta demais! Uma falha que o Sr. Lombardi deveria ter jogado no bordel, você e a vaca da sua irmã. — Controlei-me, como não fazia a muito tempo, imaginei que poderia ter as mãos decepadas caso a desse um tapa, e regredi para trás, deixando as inúmeras batatas que eu descascava minutos atrás.
Eu me virei para encará-la, o meu rosto agora também mostrando irritação.
— Alicia, você está fora de si hoje. Não sei o que está acontecendo, mas não mereço esse tratamento. Estou fazendo o meu trabalho e fazendo o melhor que posso.
Ela revirou os olhos, como quem não dava importância. Alicia continuou a provocação com um deboche maldoso, e vendo que eu não a responderia mais, do nada ela soltou mais veneno, e coisas sem sentido.
— Você sabia, né? Sabia do envolvimento dos dois. — a sua voz estava repleta de raiva, e assim como vários pratos se quebraram quando ela jogou ao chão, enquanto eu os lavava, a suas palavras caíram como uma bomba na cozinha, pois ninguém nem mesmo piscava. O silêncio pesado pairou no ar por um momento, enquanto todos na cozinha, incluindo eu, ficaram sem reação com a atitude descontrolada de Alicia.
No entanto, antes que eu pudesse formular uma resposta, a mãe de Alicia, Sara, a repreendeu de forma severa, mais severa do que nunca.
— Alicia, chega! Comporte-se! Em casa, a gente conversa sobre como você precisa ficar de boca calada. — Sara não olhou para mim, nem mesmo por um segundo, e eu soube de onde Alicia tinha herdado tanta soberba.
Alicia, visivelmente furiosa e desafiadora, resmungou algumas palavras antes de sair da cozinha. Eu fiquei ali, perplexa, sem entender nada do que estava acontecendo.
Gostaria de dar atenção ao chiliques de Alicia, ao menos era melhor que fervilhar a mente pensando no pai do meu filho, um homem cujo conhecei em uma noite pós festa, e reencontrei na casa de uma família de mafiosos, não sabia nada sobre ele, e nem mesmo onde havia realmente me metido, ainda estava indecisa sobre o seu convite para jantar, eu sei que não deveria, mas, ao mesmo tempo, penso se essa aproximação seria boa para que eu falasse da paternidade dele.
Terminei o meu expediente mais um dia, cortando legumes e lavando pratos. Por sorte Alicia não apareceu mais na mansão. O meu sonho de me tornar veterinária estava se distanciando a cada dia que passava, assim como a minha esperança de proporcionar um futuro longe da máfia para o meu filho.
Talvez ele pudesse se tornar médico, enfermeiro ou até mesmo um veterinário longe da família. A máfia tinha essas posições, mas raramente eram ocupadas por mulheres como eu, que haviam sido dadas como pagamento. E para o meu filho, não desejava nem mesmo a posição de Dom.
No final da tarde, decidi que um jantar não seria o momento certo para revelar a verdade sobre a paternidade de Pietro. As imagens de possíveis reações negativas dele circularam na minha mente, e eu não queria criar um ambiente tumultuado em público.
Optei por abordar o assunto em particular, em um momento mais adequado, e recusaria o seu convite para jantar, pois sabia que o seu interesse estava longe de ser altruísta. Eu não estava em posição de ser brinquedo de ninguém e estava determinada a proteger a mim mesma e a meu filho a todo custo, independente da reação dele.
Perto de chegar em casa após o meu expediente acabar, fui interrompida por um dos soldados, um de muitos. Ele tratou de entregar o recado.
— O Dom pediu que fique pronta às 22:00.Virá ao seu encontro. — Dom? Demorei alguns segundos para processar os fatos diante de mim. Não demorou muito para descobrir que se tratava de Italo, o filho mais velho dos Lombardi, o temido Dom. O segurança deveria achar que eu estava no mundo da lua, porque a minha expressão, com toda certeza, deveria demonstrar confusão. Contudo, a minha mente só consegui repetir as palavras ditas minutos atrás.
O pai do meu filho era o Dom.