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Capítulo 5 – A Irmã Inalcançável

Os dias que se seguiram foram uma mistura de expectativa e frustração. A cada visita ao asilo, Clara parecia estar mais distante, mergulhada em sua confusão mental, mas, de alguma forma, eu começava a acreditar que algo dentro dela reconhecia a minha presença. Eu era o filho que ela havia perdido, ou talvez aquele filho nunca tenha sido perdido para ela. Mas a verdade estava em algum lugar entre os silêncios e os fragmentos de memória que ela compartilhava, sem que soubesse realmente o que significava.

Em um dos meus encontros, Helena, com sua calma peculiar, comentou enquanto olhava para Clara, que dormia pacificamente na poltrona:

— Ela reconhece os sons. Às vezes, é tudo o que temos para nos lembrar do que ficou para trás. Ela vai se lembrar de você. Talvez, um dia...

Eu não sabia se aquilo era esperança ou uma tentativa de consolo. No fundo, algo dentro de mim me dizia que a verdade que eu tanto procurava não viria de Clara. Ela estava perdida demais em sua própria mente para devolver o que nunca entendi direito.

No entanto, não era apenas o passado de Clara que me intrigava. O nome que havia encontrado em um dos registros, o nome de Eduardo Camargo, começou a me assombrar de uma forma diferente. Eu sabia que ele era meu pai, o homem que nunca conheci. Mas como ele tinha me deixado em um orfanato, afastado de sua vida e de sua família? Havia algo errado com essa história.

Eu precisava de mais respostas, e logo me dei conta de que as respostas não viriam de Clara. Elas estavam em algum lugar onde as lembranças de Eduardo estavam guardadas, e talvez na mulher que compartilhava seu sobrenome: Isadora Camargo.

Eu havia ouvido falar dela antes, mas nada me preparava para o encontro que viria a seguir.

Decidi procurá-la.

Fui até o endereço de uma das empresas de Eduardo, uma imponente construção no centro da cidade, cheia de escritórios reluzentes e corredores frios. O nome "Grupo Camargo" brilhava em letras douradas na fachada. No interior, tudo parecia perfeito, impecável, como se fosse uma máquina em funcionamento sem qualquer falha. Mas, por dentro, eu estava vazio. Eu não sabia o que esperava encontrar ali, mas algo me dizia que essa era a única chance de entender a verdade.

Cheguei à recepção, onde uma funcionária com cabelos bem arrumados e sorriso automático me perguntou como poderia ajudar. Respondi com a maior clareza possível.

— Gostaria de falar com Isadora Camargo. Ela é minha irmã.

A mulher olhou para mim com uma expressão fria, mas não disse nada. Ela se afastou para falar com alguém nos bastidores. Minutos depois, uma mulher alta, de cabelos escuros e postura imponente, apareceu na recepção. Seu olhar percorreu-me de cima a baixo com um interesse calculado, mas não amigável.

— Você é... Gabriel? — Ela perguntou, sua voz era firme, mas com algo de desprezo. — O que você quer aqui?

Eu tentei esconder o nervosismo, mas não pude evitar que minha voz tremesse um pouco ao falar.

— Eu sou filho de Eduardo Camargo. Fui deixado no orfanato. Eu queria entender o que aconteceu... por que fui abandonado.

A expressão de Isadora mudou ligeiramente. Ela olhou para mim com algo entre o ceticismo e a surpresa. Por um momento, fiquei parado, esperando por uma reação. Ela cruzou os braços e permaneceu em silêncio, observando-me como se estivesse analisando uma peça de um quebra-cabeça que não se encaixava.

— O que você está dizendo é... impossível. Meu pai nunca teve um filho fora do casamento. Isso não faz sentido. — Ela afirmou com uma firmeza quase assustadora.

As palavras dela caíram sobre mim como um balde de água fria, mas eu não podia recuar agora. A dor de ser rejeitado por toda a minha vida, agora somada a essa negação da parte de minha própria irmã, era quase demais para suportar.

— Eu tenho provas. — Eu disse, tentando me controlar. — Eu tenho documentos, fotos e até um exame de DNA. Quero apenas saber a verdade. Eu tenho direito a ela.

Isadora me olhou com algo entre desprezo e tédio, antes de fazer um gesto impaciente com a mão.

— Você tem sorte de estar aqui. Não tenho tempo para isso. Mas vou chamar meu advogado. Ele cuidará disso. Saia da minha vista.

Eu senti a raiva crescendo dentro de mim. Como ela podia ser tão insensível? Como podia negar sua própria carne e sangue de uma maneira tão cruel? Mas eu sabia que não podia lutar contra ela naquele momento. Saí da sala sem olhar para trás.

Com o coração pesado e a mente cheia de questões, voltei para o asilo. Helena estava lá, e seu sorriso parecia trazer um pouco de paz naquele turbilhão de emoções. Sentei-me ao seu lado, mas nada parecia real naquele momento.

— Eu tentei. Mas ela não acredita em mim. Ela me chamou de mentiroso, Helena. Ela não quer saber a verdade. Não me reconheceu.

Helena pousou a mão sobre a minha, de forma reconfortante.

— Não desista. A verdade sempre encontra um jeito de aparecer, mesmo quando as pessoas não querem vê-la.

Mas o que mais me incomodava era o silêncio de Clara. Ela continuava ali, frágil e silenciosa, mas com aqueles olhos que pareciam me guardar em algum lugar profundo, onde o tempo e as palavras não alcançam. Será que ela sabia de algo que eu não entendia?

Eu não sabia, mas sabia de uma coisa: a batalha estava apenas começando.

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