No sábado, Madeleine acordou antes do sol.
Era raro dormir a noite inteira, mas naquela vez não foi a insônia que a acordou — foi um silêncio diferente. Não o silêncio das ausências, mas o da possibilidade. O do “e se”.
Levantou-se devagar, sentindo o calor constante do novo aquecedor. Vestiu uma blusa de lã, prendeu o cabelo de qualquer jeito e foi até a cozinha. Havia chá, mas pouca coisa além disso. Uma garrafa de azeite norueguês pela metade, dois pacotes de massa, uma maçã esquecida.
A geladeira parecia refletir a mesma desordem do resto da casa.
Ou da vida.
Passou os olhos pelo espaço ao redor. Tudo funcional, nada com alma. O chalé era bom — bem construído, arejado, com uma vista difícil de descrever —, mas ainda não era dela. Ainda era um lugar de passagem.
Mesmo que já fizesse semanas.
Abriu a porta da frente. A neve tinha diminuído. O céu estava pálido, mas limpo. E, pela primeira vez, pensou:
“E se eu ficasse?”
Não para sempre.
Mas o suficiente para chamar aquilo de casa.
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