Estela
O aeroporto parecia mais frio do que eu lembrava. Ou talvez fosse só o vazio que eu sentia por dentro. Meu pai e minha mãe estavam ao meu lado, tentando disfarçar a dor nos olhos, mas eu via. Eu sentia.
Segurei firme o passaporte e a passagem. Cada passo me afastava do que eu fui, e me aproximava do que eu precisava ser.
— Tem certeza disso, filha? meu pai perguntou pela terceira vez.
Eu respirei fundo.
— Tenho, pai. Pela primeira vez na vida, eu tenho certeza de algo.
— Você não quer... ele hesitou — não quer esperar mais um pouco? Ficar mais um tempo em casa?
Balancei a cabeça. Ele sabia que não era só sobre estudar fora. Não era só sobre a bolsa na Colúmbia. Era sobre fugir. Sobre curar. Sobre esquecer.
Minha mãe tocou meu braço com delicadeza.
— Você falou com ele?
Fechei os olhos por um instante, sentindo o nome dele martelar no fundo do peito.
— Não. E nem vou. Guilherme não precisa saber. E nem Luca.
Meu pai me olhou como se tentasse decifrar algo.
— Aconteceu alguma coi