O bar escolhido por Patrícia era um lugar vibrante, com música ambiente e o burburinho de conversas animadas. Mal se sentaram, e ela já sinalizava para o garçom com a autoridade de quem conhecia o cardápio de cor. "Três doses de tequila para começar, por favor. Para cada uma."
Isabella arqueou uma sobrancelha, mas não protestou. Era a noite de Clara. As doses chegaram e elas viraram de uma vez, o líquido queimando a garganta e trazendo um calor imediato. Depois, pediram drinks mais elaborados. Consciente de que precisava manter a cabeça no lugar, Isabella, a mais responsável das três, decidiu que ficaria apenas no primeiro coquetel. Clara e Patrícia, no entanto, mergulharam na celebração, e logo a contagem de copos vazios ao lado delas chegou a cinco para cada. A conversa fluía solta, cheia de risadas e memórias, até que o olhar de Clara se fixou em uma escada iluminada em um canto do bar. A curiosidade brilhou em seus olhos. Com um gesto discreto, ela chamou um garçom e, após uma breve orientação, um plano se formou em sua mente. — Meninas, aqui está muito barulhento. Vi umas mesas lá em cima, vamos mudar? — disse ela, com uma inocência calculada. Ela sabia que Patrícia, movida pela energia do álcool, toparia qualquer coisa. Seu receio era Isabella. Ao chegarem ao segundo andar, a música pulsante e as luzes estroboscópicas revelaram a verdade: não era uma área de mesas, mas uma casa noturna. Antes que Isabella pudesse protestar, Clara e Patrícia, como se tivessem um ímã, já estavam se movendo em direção ao centro da pista de dança, rindo e se deixando levar pela batida. Suspirando, Isabella se resignou. Um pouco desanimada, ela encontrou um sofá de veludo em um canto e ficou observando as duas, um pequeno sorriso no rosto ao ver a felicidade genuína delas. Depois de uma música, as duas voltaram, suadas e eufóricas. — Mana, larga de ser chata e vem dançar com a gente! — disse Clara, puxando sua mão. — Não estou muito animada para isso... — Mas hoje é meu dia! — insistiu Clara, fazendo um bico charmoso. — Vem comemorar comigo! — Ahh... está bem, sua enjoada! — cedeu Isabella, rindo. — Vou dançar com vocês. As três se entregaram à música. Depois de um tempo, Isabella sentiu que precisava de uma pausa. — Preciso ir ao banheiro — avisou, e seguiu por um corredor mais silencioso. Ao sair do banheiro, com o celular na mão, ela decidiu mandar uma mensagem para tia Mônica para saber de Benja. Concentrada na tela, digitando enquanto andava, ela não percebeu que sua bolsa havia ficado para trás. Ao se dar conta, virou-se em um movimento brusco e repentino. O impacto foi inevitável. Ela colidiu com algo sólido, perdendo o equilíbrio e caindo no chão. A mão se ralou levemente no piso, mas a dor foi ofuscada pela queda. Enquanto tentava localizar o celular no chão escuro, uma mão firme e masculina foi estendida à sua frente. Ao erguer o olhar, ela viu um homem cuja beleza parecia deslocada daquele ambiente. Alto, com uma postura elegante e cabelos pretos perfeitamente cortados, ele a encarava com genuína preocupação. — Eu sinto muito, desculpa! Eu não tinha visto você — a voz dele era grave e aveludada. — Não te machuquei, não é? Isabella aceitou a mão dele para se levantar, sentindo o calor das mãos dele. — Não, está tudo bem. A culpa, na realidade, foi minha, que não estava prestando atenção... Mal terminou de falar, seu olhar varreu o chão, procurando o celular. O homem percebeu. — Está procurando por isto? — ele lhe entregou o aparelho, mas sua expressão mudou. — Na queda, a tela quebrou. Me desculpa, de verdade. Prometo que vou comprar outro para você. Isabella, sem jeito, pegou o celular estilhaçado. — Não precisa se preocupar com isso, eu posso comprar outro. Está tudo bem. — Eu faço questão. Afinal, a culpa foi minha — ele insistiu, e seus olhos negros brilharam com uma pitada de humor. — Vai que daqui a 50 anos você aparece na minha casa me cobrando esse celular... Não mesmo, prefiro te dar outro. Vai que queira me dar uma bengalada. Após a frase, ele abriu um sorriso largo, genuíno e absolutamente encantador, que a desarmou completamente. — Tudo bem então — ela cedeu, sorrindo de volta. — Ótimo. A propósito, como você se chama? — Isabella. — Prazer, Isabella. Eu me chamo Oscar — ele passou a mão pelo cabelo, um gesto charmoso. — Pode me passar seu contato? Para eu poder te entregar o celular novo. O olhar dele era tão intenso que ela se sentiu um pouco desconfortável. Ela pensou em entregar um dos seus cartões de visita que estava na bolsa, foi quando se lembrou que tinha deixado a bolsa para traz. — Eu esqueci minha bolsa no banheiro, preciso ir buscar! Sem esperar resposta, ela se afastou rapidamente. Foram apenas alguns segundos, mas quando retornou, Oscar já estava conversando com outros dois homens. Ela pensou em passar despercebida, mas ele se virou como se sentisse sua presença e caminhou em sua direção, com os homens logo atrás. — Conseguiu achar sua bolsa? — Sim. — Agora pode me passar seu número, por favor? Isabella tirou um cartão de visita da bolsa e o entregou. Ele o analisou com uma expressão misteriosa e sorriu. — Não me diga que você é arquiteta... — Sim, sou. — Irmão, não vai nos apresentar a sua amiga? — disse um dos homens, com um sorriso divertido. — Claro. Esta é a arquiteta Isabella. Acabamos de nos conhecer de um jeito... bem impactante — ele fez uma pausa dramática. — Srta. Isabella, este é meu irmão Rafael e meu primo Gabriel. Ela sorriu e os cumprimentou. — Acho que foi o destino nos esbarrarmos hoje — continuou Oscar. — Porque eu realmente estou procurando um arquiteto para a minha casa. Antes que Isabella pudesse responder, Rafael falou: — Ah, Oscar, você prometeu que não ia falar de trabalho! — interrompeu Rafael, olhando para Isabella. — Não me leve a mal, estou salvando sua noite de uma conversa chatíssima. Todos riram. Isabella percebeu que já estava há muito tempo ali. — Me desculpem, mas preciso voltar para minhas amigas. — Claro, fique à vontade — respondeu Oscar, mas Gabriel percebeu o interesse de Oscar por ela, e se antecipou. — Srta. Isabella, por que você e suas amigas não se juntam a nós em nossa mesa? A ideia de levar Clara e Patrícia bêbadas para uma área VIP com estranhos era impensável. — Agradeço o convite, mas deixamos para uma próxima. Acredito que minhas amigas não ficariam muito à vontade. — Tudo bem. Se precisar de algo, estamos lá em cima, na área reservada — disse Gabriel, apontando. — Ok. Até mais. Enquanto ela se afastava, sentiu o olhar intenso de Oscar em suas costas até desaparecer no corredor. Ao chegar à mesa, encontrou Clara com uma expressão preocupada. — Por que demorou tanto? Onde você estava? — Estava no banheiro. Desculpa — ela olhou para o lado e viu Patrícia praticamente dormindo sobre a mesa. — O que houve? — Ela bebeu demais. Está muito bêbada. Vamos embora. Após pagarem a conta, elas conduziram uma Patrícia cambaleando para o carro. Assim que saíram do estacionamento, Clara disse, em pânico: — Não podemos ir para casa. A tia Mônica vai matar a gente se vir a Paty nesse estado. — Verdade. Vamos para um hotel, então? — Vamos. O hotel do Fellipe é aqui perto, vamos para lá.