(Pedro)
O gelo tilintava no meu copo, um som solitário que mal conseguia cortar o ruído dos meus próprios pensamentos. Eu estava sentado naquele sofá de couro, perdido em um labirinto de problemas, enquanto o uísque descia queimando, um castigo bem-vindo. Nem vi quando Arthur e Fellipe chegaram, suas presenças só se registraram quando a voz de Fellipe atravessou a névoa.
— Pedro... Pedro... Está me ouvindo?
Pisquei, a realidade voltando em um solavanco.
— Desculpa. Não vi vocês chegando.
— O que houve? Muito problema no trabalho? — perguntou Arthur, seu tom carregado daquela preocupação fraternal que, naquele momento, eu não queria.
— Também — respondi, a palavra saindo mais pesada do que eu pretendia. — A propósito, Fellipe, sua secretária te informou que vamos precisar viajar amanhã para o país Z?
— Sim, ainda é sobre o resort, né? — confirmou ele, já entrando no modo profissional.
— Sim.
A resposta foi curta. Bebi o resto do líquido âmbar em meu copo de uma só vez, o calor