O Diabo quando não vem...
O sol desponta com força, rompendo as nuvens como se quisesse apagar os vestígios da tragédia da noite anterior. Mas a cidade não esquece tão fácil. A luz quente do novo dia apenas revela, com mais clareza, os rastros do caos, o barro que escorre pelas calçadas, os móveis empilhados nas calçadas, os rostos abatidos dos moradores, todos unidos por uma mesma pergunta silenciosa: e agora?
Marta desce da caminhonete com lentidão e firmeza. O ventre saliente parece pesar mais sob o calor sufocante, mas ela mantém o queixo erguido. Seu olhar é determinado, embora a noite mal dormida pese nas olheiras escuras e no leve tremor das mãos. Miguel contorna o carro, abrindo a carroceria com um estalo metálico. Ele retira uma caixa volumosa repleta de mantimentos, roupas infantis e fraldas.
— Me dá essa, eu levo — Marta diz, estendendo os braços, mas ele nega com um aceno.
— Nem pensar. Com esse barrigão, você já tá fazendo mais do que devia. Espera ali na sombra, vai.
— Eu disse que vou ajudar, Mi