Fernanda
Despertar nunca foi tão violento. Abri os olhos e deparei‑me com paredes de mármore frio, luz indireta escorrendo por frestas discretas no forro do teto. Não havia janelas. Era um luxo sombrio. O ar tinha cheiro de sabonete caro e de algo metálico — talvez o som distante de correntes. Levantei‑me com cautela, cada músculo em alerta. Lembrei‑me em flashes: o galpão no Rio, Viktor me arrastando, o voo indefinido, o frio do casaco forçado em torno de mim.
Meus punhos cerraram‑se ao pressionar o lençol. Eu estava em Moscou. Sob vigilância rígida. Não havia traição maior do que subestimar Anya Volkov.
Pisei no chão polido e caminhai até o canto do quarto, onde encontrei uma pequena bancada com pia e uma toalha dobrada. Ao lado, um conjunto de roupas penduradas: kimono de seda, lingerie fina, saltos pretos. Um bilhete dobrado sobre o mármore brilhante:
“Treinamento começa em quinze minutos. Seja pontual. Não tente escapar.”
A tinta da mensagem era gélida, sem um pedido de desculpas