📓 Narrado por Miguel Satamini — Manhã seguinte
O sol me encontrou antes do despertador.
A cabeça latejava, o gosto de uísque ainda grudado na garganta.
Levantei com a paciência de um demônio acordado cedo demais.
A ducha fria bateu no corpo e não serviu pra nada.
Nem a água gelada apagava a lembrança dela nem o cheiro da porra daquele quarto.
Vesti o terno escuro, a gravata bem justa no pescoço, e deixei o apartamento sem olhar pra trás.
O porteiro tentou desejar “bom dia”, e eu só retribuí com o olhar.
Bom dia, o caralho.
O carro engoliu o asfalto com o mesmo humor que me engolia por dentro.
Trânsito, buzina, gente demais existindo.
E eu ali, remoendo o nome dela entre os dentes, como se mastigasse um erro.
Cheguei na empresa antes de todo mundo.
O elevador subiu em silêncio, e o espelho devolveu o reflexo que eu queria mostrar: o CEO de sempre. Frio. Intocável. No controle.
Mentira pura. Mas quem ia perceber?
Quarta-feira, 8h06 da manhã
O som do elev