📓 Narrado por Clara — Quarta-feira, 6h22 da manhã
O despertador tocou no mesmo horário de sempre, mas hoje o som pareceu menos cruel.
Abri os olhos devagar, o teto ainda meio embaçado pela luz fria que entrava pelas frestas da cortina.
Demorei alguns segundos antes de me mover só respirando, só existindo.
O corpo ainda doía em pontos pequenos, quase imperceptíveis, mas eu já sabia ler esses sinais.
As dores miúdas eram o jeito do meu corpo me lembrar de tudo o que ele passou… e sobreviveu.
Sentei na beirada da cama, ajeitei o travesseiro atrás de mim e abri a gaveta da cômoda.
Os frascos estavam ali, alinhados, como soldados prontos pra mais um dia de batalha.
Peguei o primeiro prednisona e o segundo azatioprina.
Engoli com um gole d’água já morna do copo que eu deixara na mesa.
O gosto amargo grudou na língua, mas eu nem fiz careta.
Era rotina. Era sobrevivência.
Depois, abri a pequena caixa de madeira onde guardava os curativos.
Abaixei o tecido da camis