capítulo 96

📓 Narrado por Clara — Quarta-feira, 6h22 da manhã

O despertador tocou no mesmo horário de sempre, mas hoje o som pareceu menos cruel.

Abri os olhos devagar, o teto ainda meio embaçado pela luz fria que entrava pelas frestas da cortina.

Demorei alguns segundos antes de me mover só respirando, só existindo.

O corpo ainda doía em pontos pequenos, quase imperceptíveis, mas eu já sabia ler esses sinais.

As dores miúdas eram o jeito do meu corpo me lembrar de tudo o que ele passou… e sobreviveu.

Sentei na beirada da cama, ajeitei o travesseiro atrás de mim e abri a gaveta da cômoda.

Os frascos estavam ali, alinhados, como soldados prontos pra mais um dia de batalha.

Peguei o primeiro prednisona e o segundo azatioprina.

Engoli com um gole d’água já morna do copo que eu deixara na mesa.

O gosto amargo grudou na língua, mas eu nem fiz careta.

Era rotina. Era sobrevivência.

Depois, abri a pequena caixa de madeira onde guardava os curativos.

Abaixei o tecido da camis
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