📓 Narrado por Miguel Satamini — Terça-feira, 10h15 da manhã
Marisa recuou um passo, o salto fino rangendo no piso polido.
O tablet quase escorregou da mão dela, mas ela se recompôs o orgulho sempre tentando disputar espaço com o medo.
— Eu só quis dizer, senhor… — começou, a voz um pouco mais baixa. — O senhor costuma ser o primeiro a chegar, e hoje—
Levantei a mão, cortando.
— Hoje não é dia pra costume, Marisa.
O tom bastou pra gelar o corredor.
Ela abaixou o queixo por um instante, depois tentou salvar o ar de eficiência:
— As reuniões da manhã já estão todas alinhadas. Deseja que eu avise o jurídico e o contábil que o senhor vai iniciar mais tarde?
— Não. — respondi, direto, ajeitando o paletó. — Renuncie todas.
Ela piscou, confusa. — Todas?
— Todas, Marisa. — repeti, firme, sem levantar a voz. — Quero minha manhã livre. Nada de reuniões, nem visitas.
O som da minha voz encheu o espaço como se fosse lei e era.
Peguei a pasta de couro e continuei andando