📓 Narrado por Clara — Segunda-feira, noite
O elevador chegou ao térreo com um ding seco. As portas se abriram e eu saí sem olhar pra trás. A cada passo pelo saguão, meu corpo gritava pra não esperar, pra não ceder, pra não me deixar prender de novo naquele olhar dele que tanto me feria quanto me puxava.
A rua estava úmida do sereno, o vento frio atravessava meu casaco leve. Cruzei a porta de vidro da empresa como quem atravessa uma fronteira. Eu só queria distância.
Mas, claro, não foi assim.
— Clara. — a voz dele soou áspera, atrás de mim, antes que eu conseguisse dar mais três passos.
Senti a mão dele agarrar meu braço, firme, me obrigando a virar o rosto. A mesma pressão de antes, só que agora misturada a algo mais urgência.
— Sobre o que aconteceu hoje… — ele começou, os olhos cinzentos me atravessando, a respiração pesada.
Ri sem humor, engolindo o nó na garganta.
— Vai acontecer todo dia. — retruquei, firme, erguendo o queixo. — Porque você é meu chefe. Eu já en