📓 Narrado por Miguel Satamini — Segunda-feira, noite
Eu fiquei parado na calçada mesmo depois que o táxi levou Clara embora. O motor roncou, o carro sumiu, mas eu continuei ali, imóvel, com a mão ainda formigando do ponto exato onde agarrei o braço dela. Parecia que a pele dela tinha queimado na minha.
Quando percebi, estava cerrando os dentes com tanta força que a mandíbula doía. Entrei no carro sem olhar pros lados e bati a porta como se o barulho pudesse calar a voz dela na minha cabeça.
"Fora daqui o senhor não é nada pra mim."
O motor rugiu quando eu girei a chave, mas nada abafava o eco daquela frase. Acelerei sem destino, cada semáforo ignorado, cada curva feita com raiva. Não havia lugar que coubesse o que eu sentia e eu odiava isso. Eu, que sempre soube aonde ir, que sempre planejei cada passo, agora estava vagando feito um imbecil atrás de um silêncio que não vinha.
Parei o carro de qualquer jeito em frente ao meu prédio. O porteiro abriu a boca pra cumprimentar,