Choveu à noite. Não o bastante para lavar o mundo, mas suficiente para deixar o ar mais fundo.
Arthur acordou com o som da água escorrendo pela calha, mas não se levantou de imediato. Deitou de lado e escutou. Não a chuva — o que ficava depois dela.
Na varanda, Clarice bebia algo quente. Estava de costas. Os pés descalços. O cabelo preso sem esforço.
Ele apareceu devagar. Sentou-se no degrau, a alguns passos. Disse:
— Sonhei de novo.
Ela não perguntou com o quê. Apenas bebeu mais um gole, depois respondeu:
— Eu também.
Silêncio entre eles. Mas não havia distância.
— Era um campo — ele continuou, sem olhar. — E eu caminhava de costas. Sabia que tinha alguém me esperando, mas eu não conseguia virar.
Clarice deixou a caneca no chão.
— Tem medo de ver?
— Tenho. Do que perdi… e do que ainda sou.
Ela fechou os olhos por um instante, como quem recolhe um pensamento sem pressa.
— Às vezes, a gente precisa primeiro perder o jeito de fugir. O resto vem depois.
Zaira recolhia folhas molhadas com